segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Um pouco de Neruda

Para começar bem a semana, um dos meus poemas preferidos do chileno Pablo Neruda. Trata-se do poema 15 do livro Veinte poemas de amor y una canción desesperada, publicado em 1924. Ao final, uma tradução do mesmo para o português.















Me gusta cuando callas

Me gustas cuando callas porque estás como ausente,
y me oyes desde lejos, y mi voz no te toca.
Parece que los ojos se te hubieran volado
y parece que un beso te cerrara la boca.

Como todas las cosas están llenas de mi alma
emerges de las cosas, llena del alma mía.
Mariposa de sueño, te pareces a mi alma,
y te pareces a la palabra melancolía.

Me gustas cuando callas y estás como distante.
Y estás como quejándote, mariposa en arrullo.
Y me oyes desde lejos, y mi voz no te alcanza:
Déjame que me calle con el silencio tuyo.

Déjame que te hable también con tu silencio
claro como una lámpara, simple como un anillo.
Eres como la noche, callada y constelada.
Tu silencio es de estrella, tan lejano y sencillo.

Me gustas cuando callas porque estás como ausente.
Distante y dolorosa como si hubieras muerto.
Una palabra entonces, una sonrisa bastan.
Y estoy alegre, alegre de que no sea cierto.


Gosto de ti calada

Gosto de ti calada porque estás como ausente,
e me ouves de longe, e esta voz não te toca.
Parece que os teus olhos foram de ti voando
e parece que um beijo fechou a tua boca.

Como todas as coisas estão cheias da minha alma
tu emerge das coisas, cheia da alma minha.
Borboleta de sonho, pareces-te com a minha alma,
e pareces-te com a palavra melancolia.

Gosto de ti calada e estás como distante.
E estás como queixando-te, borboleta em arrulho.
E ouves-me de longe, e esta voz não te alcança:
vais deixar que eu me cale com o silêncio teu.

Vais deixar que eu te fale também com o teu silêncio
claro como uma lâmpada, simples como um anel.
Tu és igual à noite, calada e constelada.
O teu silêncio é de estrela, tão longínquo e tão simples.

Gosto de ti calada porque estás como ausente.
Distante e dolorosa como se houvesses morrido.
Uma palavra então, um sorriso basta.
E eu estou alegre, alegre porque não é verdade.


quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Reforma política e democracia

A última edição da revista Teoria e debate traz um artigo, de minha autoria, no qual discorro sobre as relações entre a necessidade de uma reforma no atual sistema político nacional e a defesa, tanto das conquistas obtidas pelos mais de nove anos de governo capitaneados pelo PT, quanto do próprio partido, da democracia e de sua complexa agenda. Contra a ideia de plebiscito do deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), apresentada recentemente, defendo que a convocação de uma Constituinte exclusiva é o único meio possível, hoje, de dar conta da envergadura desta discussão, possibilitando-nos vislumbrar uma reforma que, centrada nos eixos do financiamento público de campanhas, do voto em lista e da ampliação dos canais de participação popular, cumpra seu papel fundamental: radicalizar a democracia brasileira. O artigo pode ser lido aqui.