quarta-feira, 24 de julho de 2013

Entraves econômicos à reforma política

"Passado mais de um mês desde as imprevistas manifestações que sacudiram o Brasil no mês de junho, parece haver certo consenso, ao menos à esquerda, de que, independentemente das diferentes avaliações de suas causas e consequências mais imediatas, elas tiveram ao menos o mérito de expor, a exemplo do que já ocorrera recentemente em outros países, a falência de nosso atual sistema político. Com efeito, já não se pode negar que a estreiteza de nossa democracia não é mais capaz de dar vazão ao legítimo anseio de participação que floresceu, sobretudo, com o advento e a disseminação da internet e de suas redes sociais. Tampouco é capaz de permitir respostas satisfatórias às demandas surgidas a partir das transformações econômicas e sociais vividas pelo Brasil nos últimos dez anos.
    
Nesse sentido, não resta dúvida de que apenas uma profunda reforma em nosso sistema político-eleitoral, nas formas de representação e nos mecanismos de participação popular, pode abrir uma saída positiva para este novo momento. No entanto, como ficou provado pelos ataques ferozes da direita e dos setores dominantes às propostas da presidenta Dilma – primeiro, de uma Constituinte exclusiva sobre o tema e, na sequência, de um plebiscito –, a resistência à mudança da ordem política é muito mais resoluta do que pode parecer. E isso não apenas por conta do desejo de grande parte de nossos atuais representantes de continuar a se locupletar de um sistema que favorece a corrupção e a conservação do poder, mas também, e sobretudo, porque o modelo político vigente, no Brasil, está intimamente ligado às necessidades de reprodução de nosso capitalismo historicamente predatório".

Esta é a introdução de um artigo que escrevi recentemente, após a onda de protestos de junho, intitulado "Entraves econômicos à reforma política", e que acaba de ser publicado na edição 114 da revista Teoria e Debate. Nele, busco pontuar a profunda relação entre nosso sistema político (hoje definitivamente posto em xeque) e as necessidades de reprodução do capital no contexto brasileiro. A meu ver, o sucesso do "lulismo" fez nascer, desde seu bojo, uma nova espiral de demandas e aspirações (em particular, por serviços públicos de melhor qualidade) que se confrontam crescentemente com a lógica perversa da acumulação capitalista brasileira – a qual, dentre outras coisas, se nutre fortemente da deficiência crônica dos serviços oferecidos pelo Estado. Por isso, desvendar as relações entre a forma que o capitalismo assumiu historicamente no Brasil e o nosso atual sistema político - que com seus estreitos limites de "governabilidade", bloqueia qualquer tentativa de se operar mudanças estruturais mais profundas e no ritmo adequado - ajuda a tecer o pano de fundo que se encontra por trás da resistência oferecida, pela elite e seus representantes, às propostas de reforma política postas na mesa pela presidenta Dilma e pelo PT. É que tais propostas, centradas na participação popular, abrem uma ameaça potencial à continuidade daquela forma de relação entre economia e política. Dito de outro modo, põem em risco o poder da minoria economicamente dominante.

Leia o artigo completo aqui. 

quinta-feira, 18 de julho de 2013

3 anos!!!

Nesta semana, o blog completa três anos no ar. O que surgiu quase como um passatempo, tornou-se algo muito importante para mim, e que tento manter da melhor maneira possível. São três anos de publicações permanentes, um verdadeiro espaço de interação sobre assuntos os mais diversos. Por isso, só posso agradecer a todas e todos que têm passado por aqui, e tido a bondade e a paciência de ler os textos, comentá-los, discuti-los, elogiá-los, seja diretamente no blog, pelo Face ou pessoalmente. 

A tod@s, o meu muito obrigado!

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Autuori chega para (tentar) salvar o São Paulo da crise

Paulo Autuori é oficialmente o novo treinador do São Paulo. Diferentemente do que ocorreu em sua primeira passagem, quando chegou num time mais arrumado, com bom elenco, campeão paulista e disputando a fase final da Libertadores, Autuori, dessa vez, chega com a missão de salvar o clube de uma crise poucas vezes vista em sua história.

Não sei se a escolha foi acertada. Primeiro porque, embora tenha um evidente respeito pelo treinador tricampeão da Libertadores e do Mundial pelo tricolor, eu o considero um tanto quanto sobrevalorizado. Afinal de contas, seu último grande momento foi justamente aquele pelo São Paulo, há oito anos! De lá para cá, verdade seja dita, nenhum trabalho de Autuori o credencia ao status de que ainda desfruta. Além disso, como qualquer criança sabe, o problema tricolor está mais em cima. E, como aí, nada muda até abril de 2014, o potencial de sucesso do novo treinador (como o era dos anteriores) fica bastante reduzido.


De qualquer forma, espero que Autuori consiga armar um time minimamente competitivo, mesmo com as deficiências visíveis do elenco, e que permita ao São Paulo fazer um Campeonato Brasileiro sem sustos. Pois, neste momento, depois da série histórica de quatro derrotas seguidas no Morumbi, da nulidade da equipe nos últimos jogos, e da vergonhosa atuação da diretoria (do projeto de ditador JJ ao fujão Adalberto “Porsche” Batista, passando por João Paulo “não sei de nada” de Jesus Lopes), não ter de lutar contra o rebaixamento é, infelizmente, o melhor cenário que consigo enxergar para o SPFC neste segundo semestre.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Temos um time

Quando Felipão foi apresentado como novo técnico da seleção, em novembro passado, escrevi um post em que desaprovava a escolha (e os métodos e critérios que levavam a ela) (leia aqui). Não retiro nada do que disse naquele momento. Continuo achando que o futebol brasileiro como um todo precisa de uma profunda reformulação (inclusive política) e que a escolha da dupla Felipão/Parreira, deste ponto de vista, configurou um passo atrás. Mas, não posso deixar de reconhecer que, para minha surpresa, Felipão, em pouco tempo, conseguiu cumprir seu objetivo inicial e dar uma cara ao time do Brasil, construindo uma equipe forte e competitiva, disposta a jogar e que soube conquistar a torcida como há muito não acontecia. O passeio de ontem, diante da temida Espanha, coroou o bom trabalho de Scolari à frente da seleção neste último período. A um ano da Copa, podemos dizer, finalmente, que temos um time. Pode não ser o time dos sonhos de todos, ou o futebol mais belo de se ver (embora, ontem especificamente, tenhamos dado uma verdadeira aula de futebol). Afinal, ter um time não significa que ele já esteja pronto. É inegável que ele ainda precisa evoluir, encontrar alternativas de jogo, acertar algumas peças etc. Para que isso aconteça, aliás, evitar o oba-oba desse momento é fundamental. No entanto, ficou claro, após essa Copa das Confederações, que o Brasil voltou a estar no topo das favoritas a levantar a taça no ano que vem. Se o trabalho continuar nessa toada, e se nada de extraordinário se passar até lá, esse status tende a se fortalecer. Méritos de Felipão!