segunda-feira, 30 de março de 2015

Eric Clapton - Wonderful tonight

Em comemoração aos 70 anos de deus, digo, de Eric Clapton, celebrados neste 30 de março, uma de suas mais belas canções, Wonderful tonight.

Enjoy it!


terça-feira, 24 de março de 2015

A saída é... fazer política!

Não é novidade para ninguém que não está fácil decifrar o atual momento político brasileiro. Por isso, me parece pretensão demais querer fazer uma análise conjuntural neste espaço. Contudo, algumas coisas podem ser deduzidas do turbilhão de acontecimentos que ocupam a agenda política nos últimos meses, e elas podem dar pistas de qual caminho Dilma e seu o governo poderiam tomar.

Em primeiro lugar, é evidente que há um descontentamento quase generalizado em relação ao governo federal. Isso significa que não, não creio que as manifestações do último 15 de março, e as que devem vir em abril, sejam frutos exclusivos dos setores médios e ricos da sociedade – ainda que estes estejam encabeçando os protestos. No entanto, há sim uma diferença entre o que incomoda um ou outro lado, e é por este caminho que, a meu ver, passa a chave para uma reabilitação do governo.

Há uma parte da população – leia-se: classe média tradicional e a elite – cuja posição diante do governo Dilma se cristalizou com os recentes “panelaços”: não importa o que a presidenta faça para agradá-los (e, diga-se de passagem, ela tem feito muito), eles continuarão se opondo a seu governo (e, eventualmente, a seu direito de terminar o recém iniciado segundo mandato). A lógica dessa oposição indiscriminada  se ampara na narrativa midiática e falaciosa de que a “crise econômica” é fruto de um suposto aumento da corrupção patrocinada pela presidenta e seu partido. É o pessoal da indignação seletiva, que se mostra claramente avesso (neste momento, pelo menos) a qualquer diálogo. Neste caso, entendo que a única coisa que Dilma pode fazer, neste momento – e é o que ela tem feito – é não interferir nos rumos das investigações da Lava Jato.

Mas, como disse acima, é inegável que outras parcelas da população também estão incomodadas com o governo. Estes, porém, por algo muito mais concreto: as dificuldades na economia (inflação, em particular, mas também a ameaça do aumento do desemprego) os atingem diretamente. Para quem ganha 2 ou 3 salários mínimos, por exemplo, é nítida a diminuição do poder de compra neste último período. E, se eles votaram em Dilma e no PT, era com a expectativa exatamente oposta. Ademais, causou espanto que o governo, em nome de “equilibrar as contas” da União, tenha optado por começar seu ajuste através da revisão (em bom português: redução) dos benefícios trabalhistas e previdenciários. Não há como negar que tais medidas, propostas ainda no final do ano passado, soaram como uma afronta à base de apoio de Dilma, e sinalizaram que o governo não pretendia afetar interesses dos setores mais poderosos. Em outras palavras: que quem pagaria (ou pagará) a conta seriam (serão) os setores mais frágeis de sempre.

Ora, nessa frente se concentra o grande equívoco de Dilma até aqui. Há problemas na economia? Há. Há uma crise generalizada que está levando o país ao caos? Não. Portanto, nesta área, o problema pode ser menor do que parece. Com efeito, a dificuldade da presidenta, que se agravou com a composição do Parlamento nesta legislatura, é especialmente de ordem política. E problemas políticos se resolvem fazendo... política! Pode parecer óbvio, mas o óbvio às vezes é tão óbvio que nos esquecemos dele...

Mas, o que é fazer política neste caso? Um bom começo seria direcionar as principais ações do governo na defesa dos interesses daqueles que reelegeram Dilma – ou seja, deixar de se pautar por aqueles que pretendem derrubá-la (inclusive o capital financeiro). Por exemplo, seria o caso não apenas de rever, mas de retirar as MPs que reduzem os direitos trabalhistas e encampar publicamente o projeto de taxação de grandes fortunas como solução à necessária captação de receitas. “Ah, mas este projeto jamais será aprovado pela ‘casa do Cunha’”? Pode até ser verdade. Mas, é preciso que o governo (isso vale para o PT também) deixe de fazer do vício virtude: o fato de haver dificuldade não significa que se deva abrir mão da ideia e se resignar ao tosco pragmatismo do possível. Uma medida como esta serviria para Dilma nortear a agenda política – que hoje foi sequestrada pela mídia e pela oposição no Parlamento – e reaglutinar sua base de apoio (os setores que a elegeram, o PT e os demais partidos de esquerda), tirando-a do isolamento social no qual se encontra (e que claramente só se agravará, se a presidenta continuar a crer que base de apoio só existe no Congresso). Outra medida – essa a mais imprescindível de todas – é tomar a frente nas discussões pela Reforma Política e pautar abertamente esse debate na sociedade (algo que o PMDB está tentando – e conseguindo – fazer).
  
É claro que isso poderia criar ainda mais tensões na já problemática relação com os partidos da “base”, por exemplo. No entanto, me parece que, neste momento, o único antídoto ao oportunismo de seus “aliados” no Congresso é conseguir mostrar força no seio da sociedade civil. Do contrário, enfraquecida como está, a presidenta ficará cada vez mais refém dos "achacadores" do Congresso...

Por fim, uma última observação: para fazer política nestes termos, é verdade, Dilma e seu governo precisam rever urgentemente sua estratégia de comunicação. Construir uma narrativa paralela - e real - em relação àquela tramada pela grande mídia (que, sem contraponto, tem se disseminado facilmente). Afinal, um governo no qual a dificuldade em se comunicar chegou ao ponto de o presidente da Câmara, e não o Planalto, anunciar a demissão de um ministro, pode ser um governo fadado a permanecer o tempo todo encurralado contra as paredes que ele mesmo está ajudando a  construir.

sexta-feira, 6 de março de 2015

O carteiro e o poeta (Il postino)

Há filmes que nos tocam. Pela beleza, pela sensibilidade, pelo lirismo ou pelo que podemos extrair deles para nossas vidas. O carteiro e o poeta é um destes. O enredo é relativamente simples: explora a amizade desenvolvida pelo poeta chileno Pablo Neruda com Mario - um um rapaz que se torna seu "carteiro" particular em uma pequena ilha na Itália, para a qual o filósofo havia se mudado por questões políticas. O jovem carteiro é apaixonado por Beatrice e, mesmo semi-analfabeto, aprende a escrever poesias com a ajuda do amigo, até conseguir se declarar para a amada. No vídeo abaixo, uma das passagens mais marcantes, na qual Neruda ensina o amigo o que são metáforas.

O que parece um roteiro simples torna-se um longa marcante, tramado com as belas paisagens italianas e uma trilha sonora de uma delicadeza ímpar. Um filme poético, em todos os sentidos, e que vale á pena ser visto e revisto.

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O carteiro e o poeta (Il postino)
Ano: 1964
Direção: Michael Raford
Gênero: Drama
Origem: Itália
Duração: 100 min.
Elenco: Massimo Troisi, Philippe Noiret, Maria Grazia Cucinotta