terça-feira, 24 de novembro de 2015

Até quando?













Depois de um longo hiato sem tentar escrever poesia, deixo com vocês um pequeno exercício de libertação da alma. Porque, parafraseando alguém, se a arte não salva a vida, salva o instante.

***

Até quando?

Viajei com a mala
repleta de sonhos
Mas retorno
com um vazio de esperanças

Abstrato
Acordo, ergo a cabeça, olho para o lado:
apenas móveis velhos
fora do lugar...

Até quando será possível
suportar
o acúmulo trágico dos fatos?

Até quando a impotência
que mortifica a alma
poderá se prolongar?

Até quando sentimentos humanos
serão vítimas
das letras frias de um contrato?

Até quando haverá medo
de se perder
e nunca mais se encontrar?

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Ozzy Osbourne - Mr. Crowley

Sexta-feira 13, tempos sombrios, más notícias se acumulando, tragédias, futuro incerto... nada como um clássico do heavy metal para servir de trilha sonora. Deixo para vocês essa apresentação para a TV inglesa de Mr. Crowley, do primeiro disco solo de Ozzy Osbourne, com participação do extraordinário e saudoso Randy Rhoads na guitarra.

"Approaching a time that is drastic, with their back in the wall..." 

Enjoy it!






segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Poema em linha reta












Fernando Pessoa, imprescindível para um momento de incertezas e questionamentos sobre si mesmo...


Poema em linha reta
(por Álvaro de Campos)

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.