O próximo domingo, 31/10, é um dia muito especial. para mim. Não apenas por conta das eleições, mas porque comemoro mais um ano de vida (25). E como vocês devem saber, também é Dia das Bruxas ou, mais precisamente, Halloween. Por isso, numa espécie de auto-homenagem, resolvi escrever um pouco sobre essa data, bastante festejada em países anglo-saxões, e que, pouco a pouco, vem ganhando espaço também em outros países, como o Brasil (aqui, creio eu que graças, sobretudo, à influência cada vez mais sentida das escolas de inglês). Como vocês irão notar, a festa tem muito pouco ou nada a ver com bruxas propriamente ditas, embora se trate de uma celebração de procedência místico-religiosa.
O Halloween tem sua origem num ritual dos druidas, sacerdotes (e também mestres e juízes) dos celtas, povo que habitava a região norte da Europa (atual Grã-Bretanha) desde o ano 200 a.C. aproximadamente. Na tradição celta, entre os dias 30 de outubro e 02 de novembro (do nosso calendário, claro) era comemorado o Samhain (pronuncia-se sow-in). O festival de Samhain (em gaélico, literalmente, “fim do verão”) celebrava o final da “metade mais clara” e início da “metade mais escura” do ano (isto é, o fim do verão e o início do inverno), marcando o início do ano novo celta. Era um momento de culto aos mortos e um agradecimento pelo ano que acabava. Durante o festival, a rígida estrutura social celta era quebrada, e as pessoas poderiam fazer coisas que normalmente eram inaceitáveis por aquela sociedade. Uma prática comum nesses dias era a adivinhação, que muitas vezes envolvia o uso de alimentos e bebidas.
Na noite do dia 31, acreditavam os celtas, as leis de espaço e tempo eram suspensas, a fronteira entre este mundo e o outro (dos mortos e dos espíritos) se tornava mais estreita, permitindo que forças sobrenaturais, fantasmas e espíritos vagassem livremente por aqui. Dizia-se que os espíritos dos mortos voltavam nessa data para visitar seus antigos lares e guiar os seus familiares rumo ao outro mundo.
Por isso, os celtas ofereciam a esses espíritos sacrifícios de animais, e colocavam alimentos nas portas de suas casas, com o intuito de agradá-los, bem como para impedir que espíritos nocivos interferissem em suas vidas, seja levando-os, a contragosto, para o outro mundo, seja prejudicando o sucesso das colheitas do ano seguinte. Além disso, vestiam trajes e máscaras especiais para afugentar tais espíritos malignos.
As fogueiras desempenhavam um papel essencial nas festividades. Grandes fogueiras, simulando o sol, eram acesas nos vilarejos pelos druidas, (inclsuive os ossos dos animais abatidos para o culto aos mortos eram lançados em suas chamas) com o intuito de obter bençãos dos deuses no próximo ano, bem como sucesso nas colheitas. Com efeito, o Samhain era também o tempo de fazer o balanço das entregas de alimentos e animais de abate para os estoques de suprimentos que garantiriam a sobrevivência durante o inverno, bem como para discutir assuntos importantes concernentes ao povoado, em temas como justiça e política.
A festa continuou a ser celebrada depois da conquista romana dos antigos territórios celtas. Já o nome Halloween, ao que tudo indica, deriva do inglês antigo. A primeira aparição dessa expressão se dá no século 16 e representa uma contração errônea de All Hallows-Eve, isto é, a véspera do Dia de Todos os Santos (All Hallows Day). Esta data foi instituída pelo Papa Bonifácio IV, e era celebrada no dia 13 de maio. Porém, em 835 o Papa Gregório III alterou o Dia de Todos os Santos para o primeiro dia de novembro, visando unir as crenças cristãs e pagãs, aproximando as datas comemorativas, bem como apaziguar os conflitos entre esses povos. Assim, os cristãos celebravam o dia dos santos falecidos no dia posterior ao rito pagão. Desta forma, a expressão Halloween tornou-se sinônimo da celebração pagã de 31 de outubro. A incorporação da figura das bruxas à data deu-se muito depois, durante a Inquisição Católica, no final da Idade Média. Nessa época, os suspeitos de não compartilhar a fé cristã eram considerados bruxos ou bruxas, e queimados em grandes fogueiras, que lembravam aquelas do antigo ritual celta.
Já no século XIX, a festividade foi levada aos Estados Unidos por imigrantes irlandeses, onde se popularizou enormemente, ganhando ares mais leves, diferentes dos originais, concentrando-se mais na parte festiva (por exemplo, com o famoso Trick-or-treat? das crianças, e com as fantasias de monstros e bruxas).
A referência simbólica mais famosa ao Halloween são as famosas abóboras recortadas iluminadas, com aparências demoníacas. Elas se chamam Jack-o-Lantern. Sua origem é encontrada no folclore irlandês (mesma região dos antigos celtas). Reza a lenda que um homem chamado Jack, notório beberrão e trapaceiro, esculpiu uma cruz no tronco de uma árvore, prendendo o diabo em cima dela. Depois disso, Jack firmou um trato com o Diabo: se ele nunca o atormentasse, Jack apagaria a cruz do tronco e o deixaria descer da árvore. Depois que Jack morreu, sua entrada no Céu foi recusada devido ao seu pacto com o Diabo. No inferno, também não foi aceito, devido a suas trapaças. Porém, o Diabo concedeu a Jack uma única vela para iluminar seus caminhos. Sua chama teria que ser preservada eternamente, então Jack a colocou dentro de um nabo oco, e esculpiu alguns furos para dar passagem à luz emitida pela chama.
Originalmente, portanto, as "Lanternas de Jack" eram feitas com nabos. Mas quando os imigrantes irlandeses chegaram aos Estados Unidos, em 1840, encontraram as abóboras que são muito mais adequadas. Assim, a abóbora tornou-se o principal símbolo contemporâneo do Halloween.