Outra edição dos Jogos Olímpicos se aproxima do fim, e não dá para negar a sensação de que o desempenho brasileiro, em número de medalhas, ficou aquém do desejado e de nosso potencial - impressão que uma ou outra medalha a mais que não veio em nada mudaria. A meu ver, dentro da realidade dos atletas de ponta, o principal responsável por esse cenário, para além das contingências de cada competição, é o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman, cuja atuação à frente da entidade é calamitosa. Aliás, não só a dele, mas o da maioria dos presidentes de confederações
esportivas. O que a boxeadora Adriana Araújo, medalha de bronze em Londres,
disse a respeito do presidente da Confederação Brasileira de Boxe (leia
aqui), certamente
pode ser estendido e aplicado ao de outras tantas modalidades. Presidentes
preocupados apenas com o dinheiro que recebem de patrocínios e governos e pouco
se lixando para os atletas e o desenvolvimento esportivo do país.
“Ah, mas o governo também tem
culpa!”, poderá retrucar alguém. Sem dúvida. No entanto, me parece que a
“culpa” maior do governo (ou dos governos, uma vez que o esporte não é assunto
apenas da alçada federal) não se refere exatamente aos atletas olímpicos em sua
maioria. Estes, em bom número, são auxiliados, especialmente pelo governo
federal, seja pelo bolsa-atleta – criado por Lula em 2004, cuja verba, aliás,
contribuiu para nossos dois ouros individuais, de Sarah Menezes e Arthur
Zanetti; seja através do patrocínio de estatais – basta ver, sobretudo em
outras competições, nas quais os atletas utilizam uniformes próprios, as
logomarcas da Caixa, do Banco do Brasil, dos Correios, da Petrobras etc., e a
quase ausência de logomarcas de empresas privadas para se ter ideia da relação
entre capital público e privado no montante do patrocínio total dos atletas
(este último muitíssimo menor do que o primeiro, salvo em uma ou outra
modalidade).
A principal falha do governo, em
minha opinião, é não desenvolver uma política pública efetiva de promoção do
esporte nas escolas. É desnecessário lembrar da defasagem estrutural de grande
parte dos prédios escolares no Brasil, o que impede muitos alunos de terem
aulas de educação física, consequentemente, um primeiro contato com a prática
de outros esportes para além do futebol. Contudo, mesmo naquelas escolas que
contam com uma quadra minimamente decente, a própria concepção da aula de educação
física – muitas vezes vista como mera recreação por parte dos alunos e “tempo
perdido” por parte dos profissionais da educação – não favorece a disseminação
do esporte, do cuidado com a saúde, e de alguns valores que este pode proporcionar: o
espírito de solidariedade, a competição sadia, o “aprender a perder”, a
superação, a determinação, dentre outros.
Assumir o esporte, desde a base,
isto é, desde as escolas, como meio de inclusão social, promoção de cidadania e
disseminação de valores positivos para o convívio social: esta, a meu ver,
deveria ser a tarefa primordial do governo, num trabalho integrado entre MEC,
Ministério dos Esportes, governos estaduais e municipais – trabalho este que se
existe, ainda deixa muito a desejar. Melhorar a estrutura das escolas, rever o
conceito da educação física no âmbito escolar, auxiliar na construção de
centros poliesportivos pelo interior do país, sem claro, descuidar da outra
ponta, dos atletas de nível nacional e internacional de competição. Mais do que verba,
pura e simplesmente, a vontade política de todos os atores é fundamental.
Apenas assim, o esporte poderá contribuir para uma formação cidadã mais
completa e que tanta falta nos faz. A existência de campeões olímpicos, atletas
de ponta etc. será uma consequência natural da concretização deste movimento.