quinta-feira, 28 de março de 2013

Hollande, a esquerda europeia e a crise

Com baixo índice de aprovação popular (menos de 30%, segundo as últimas sondagens), o presidente francês, François Hollande, acaba de conceder uma entrevista de mais de uma hora, em rede nacional de televisão, para se explicar para os franceses, diante de um aumento crescente do desemprego – que atinge quase 11% da população e cerca de 25% dos jovens – e da queda quase generalizada do poder de compra dos salários.

Já havia afirmado, no momento da eleição de Hollande, que o sucesso de um governo de esquerda, num país central do capitalismo, como a França, era algo importante, não apenas em nível local, mas em nível mundial, como ponto de apoio para a consolidação de um projeto pós-neoliberal de maior amplitude. Nessa perspectiva, infelizmente, até aqui, seu governo tem sido decepcionante.

Mesmo se apresentando (ou tentando) como um contra-ponto positivo à política alemã, no âmbito da União Europeia – durante a entrevista, afirmou, por exemplo, que manter a política de austeridade é levar a Europa à "explosão" –, e com medidas progressistas como o "Casamento para todos", em nível nacional, falta a Hollande – algo que essa entrevista deixou mais claro – ousadia política (para além de suas boas intenções) para superar o paradigma neoliberal que envenenou o continente europeu e que atinge a França e os países mais frágeis da zona do Euro de modo cada vez mais dramático.

Há poucos dias, o ex-presidente Lula disse que o problema da Europa era político: a falta de uma liderança capaz de instituir um novo horizonte para o continente. Hollande teve o voto para ser essa liderança (ele mesmo assumiu, nessa entrevista, que "todos nos olham com esperança"), mas não tem conseguido. O grande problema aqui – basta uma olhada nas redes sociais para ver o teor de grande parte dos comentários acerca da entrevista de Hollande – é que o insucesso do governo socialista, longe de abrir espaço para uma esquerda mais arrojada, tende a facilitar o caminho para o fortalecimento da direita e da extrema-direita. Um quadro desastroso, não apenas para quem foi eleito sob a égide do changement, mas para a própria perspectiva de superação definitiva da tragédia neoliberal em nível global – o que passa pelo recrudescimento da esquerda (social-democrata, socialista e comunista), hoje ainda mais desacreditada, no continente europeu. 

segunda-feira, 25 de março de 2013

A persistência da memória

Depois da pausa de algumas semanas, volto a atualizar o blog com um poema que escrevi há alguns anos, inspirado no quadro A persistência da memória, de 1931, de Salvador Dalí – que considero um dos mais inspiradores e criativos da história. Nos últimos meses, Paris recebeu uma grande exposição sobre o pintor, que contava com suas principais obras, inclusive esta. Tive a felicidade de vê-la há cerca de um mês, e foi neste momento que me lembrei desses versos, que agora decido compartilhar com vocês. Além disso, o tema da memória vem bem a calhar depois de alguns dias em que perdas, parciais ou definitivas, tomaram conta da minha vida.
















A persistência da memória
(Inspirado no quadro de Salvador Dalí)


A memória persiste
                                   Dalí,
daqui,
                        de
                                 to
                                 dos
                                        os
            lu
                  ga
                        res,
um fluxoininterrupto
de ameaças fotográficas
                        a sobrevoar
                        nossas cabeças

Testemunha solitária
de um funeral inacabado,
trafega ao toque de
                        seios
                           e
                       senhas
sob a luz artificial
que dá contorno à noite

                        [a luz branca de esquecimento
                         a esfera sem começo nem fim
                         o medo do silêncio que passou
                                                       v o a n d o
                                                           pelo vidro do
                                                                       carro]

A memória assiste,
aqui,
                        ali,
aos velhos filmes e as mulheres sem maquiagem
E resiste,
                 Dali,
   daqui,
ao calor e ao champanhe que bor
                                                      bu
                                                           lha
                                               Vaidades

A memória persiste
e nos diz:
-Esqueçam!


quinta-feira, 7 de março de 2013

Pausa no blog

Por questões pessoais - leia-se: um merecido e prazeroso período de descanso/passeios ao lado da esposa em Paris e Londres -, e salvo algum acontecimento relevante e extraordinário que me "obrigue" a comentar algo a respeito, o blog não sofrerá atualizações até o final de março.

Abraços a tod@s!

terça-feira, 5 de março de 2013

Hasta siempre, comandante Chávez!

Apesar de minhas férias do blog, conforme disse no post anterior, jamais poderia deixar de passar aqui para comentar essa triste notícia, que foi a morte do presidente venezuelano Hugo Chávez. Um dos maiores líderes da esquerda do século XXI, impulsionador da integração latino-americana, ponto de inflexão no combate ao neoliberalismo e ao imperialismo. Uma perda, em muitos aspectos, irreparável. Mas, apesar da dor e do luto, fica a certeza de que, se morre o homem, ficam sua luta e suas ideias. 

¡Hasta siempre, comandante Chávez!