quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

10 anos de governo do PT. E agora?

Na última quarta-feira, o PT e a Fundação Perseu Abramo deram início, em São Paulo, com a presença do ex-presidente Lula e da presidenta Dilma, a um ciclo de seminários celebrando os dez anos de governo do PT no Brasil. Dez anos que mudaram definitivamente – e para melhor – a história do Brasil.

Claro, podem-se fazer críticas ao governo do PT. Especialmente no que tange ao ritmo e à profundidade de algumas mudanças estruturais, que ou não saíram do papel, ou saíram de modo incompleto, não conseguindo tocar no âmago de alguns de nossos históricos e graves problemas sociais. Por outro lado, porém, o fato é que, a partir da chega de Lula à presidência, pela primeira vez, crescimento econômico e distribuição de renda foram combinados de forma a promover uma diminuição real da obscena desigualdade que desde sempre assola nosso país - a erradicação da miséria sendo a ponta de lança desse movimento. E isso, é sempre bom levar em conta, mesmo diante do complexo quadro político e social brasileiro, da persistente hegemonia da direita, seja no Congresso, onde tem maioria eleita, seja no âmbito da própria sociedade civil, em que os valores liberais e capitalistas encontram-se amplamente difundidos e arraigados, de modo mais ou menos difuso, em todas as classes sociais (o que ajuda a explicar aquela maioria). Ora, se esses elementos por si só não explicam, inegavelmente concorrem na obstrução de mudanças mais rápidas e profundas.

Passados dez anos, porém, é também hora de olhar para frente. Alguns temas precisam ser efetivamente encarados, justamente se quisermos modificar esse cenário frequentemente hostil a tudo o que cheire a igualdade e a justiça social. Em uma palavra, enfrentar a questão do poder, que está longe de se esgotar com a conquista do Estado (que obviamente, no entanto, continua sendo importante). Para isso, duas pautas me parecem essenciais: a reforma político-eleitoral e a democratização dos meios de comunicação.

Já falei algumas vezes sobre ambas aqui, logo, não vou me estender. Apenas gostaria, mais uma vez, de ressaltar a intrínseca relação que esses dois temas possuem com o objetivo central de um projeto de esquerda transformador, que é o de estabelecer uma verdadeira contra-hegemonia (por conseguinte, disputar amplamente o poder político, em todos os níveis). Isso não é possível sem aprofundar nossa democracia, o que passa, por exemplo, por fortalecer os partidos, fazer destes mediadores da vontade pública, torná-los representantes legítimos de parcelas da população, com distinções programáticas e ideológicas nítidas entre si. Para isso, é igualmente imprescindível eliminar o risco de que os interesses econômicos dos financiadores das milionárias campanhas eleitorais se sobreponham às necessidades populares, bem como o personalismo e a troca de favores. Tampouco haverá contra-hegemonia sem que tenhamos os meios para disputar, de modo mais justo, “corações e mentes” com nossos ideais, podendo tensionar valores e práticas estabelecidas, e reavivar o sentido de nossa utopia – o que o cenário atual pouco ou nada permite.

Em suma, se não pautarmos, seja no âmbito governamental, seja no dos partidos e movimentos sociais, respeitando as agendas e dinâmicas de cada um, a necessidade dessas mudanças, estaremos, nós da esquerda, fadados a fazer política à mercê do calendário eleitoral e das contingências do cotidiano, que sempre carregam consigo o risco de derrotas e retrocessos. Estaremos, tão grave quanto, praticamente obrigados a limitar nosso horizonte de conquistas à facticidade de um cenário político demasiadamente estreito. Responder à altura o desafio de disputar o poder em sentido amplo é o próximo passo para que, com a reeleição de Dilma em 2014, nos próximos anos, o PT, a esquerda, e o povo brasileiro, sigam construindo, como começaram a fazer nesta última década, um país mais próspero e justo.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Jean-Jacques Goldman - Si je t'avais pas

Hoje, 14 de fevereiro, é dia de São Valentim. Em muitos países, como aqui na França, essa data representa o dia dos namorados. Por isso, em homenagem a esse dia, deixo vocês com uma bela canção de um cantor francês bastante popular, Jean-Jacques Goldman. Uma canção que, como mostra o clipe, vale para todas as formas de amor que descobrimos ao longo da nossa vida, e que, quando nos damos conta, já nos transformou de tal forma que não sabemos mais como seríamos sem ele. E porque meu amor pela Angelica é assim, dedico a ela essa canção, essa data, e meu coração. E, parafraseando a letra dessa música, mais do que nunca posso afirmar: Angel,  minha casa, meu país, é você. Je t'aime!




Si je t'avais pas
Se eu não te tivesse

I

Je jouerais du même harmônica
Eu tocaria a mesma gaita

Je verrais le même arbre là-bas
Veria lá a mesma árvore

Serais-je heureux sans toi ? Pourquoi pas ?
Seria feliz sem você? Por que não?

Rien que d'y penser ça me glace à chaque fois
Tenho arrepios toda vez que penso nisso

(Refrain/refrão):

Si je t'avais pas
Se eu não te tivesse

Si je t'avais pas
Se eu não te tivesse

Que serais-je, où ça ?
O que eu seria? Onde?

Ma maison c'est là
Minha casa é aí

Exactement dans tes bras
Exatamente em teus braços

II

J'aurais des enfants, mais pas ceux-là
Teria filhos, mas não aqueles

Moitié moi, mais pas moitié toi
Metade minha, mas não metade sua

J'embrasserais, « comme ça », un peu distrait
Eu beijaria, “assim”, um pouco distraído

Pas une fois, pas une, nous ne l'avons fait
Nenhuma vez, nenhuma, nós o fizemos

(Refrain/refrão):

Si je t'avais pas
Se eu não te tivesse

Si c'était pas toi
Se não fosse você

Que serais-je, où ça ?
O que eu seria? Onde?

Mon pays c'est toi
Meu país é você

Précisément dans tes bras
Precisamente em seus braços

III

Bouge pas
Não se mova

C'est ma place à moi
É meu lugar para mim

Mon abri, mon toit
Meu abrigo, meu teto

J'habite tes bras
Eu moro em seus braços

Là où me caressent tes doigts
Lá onde seus dedos me acariciam

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Agora é prá valer!

Esse ano, não havia escrito nenhum post sobre futebol ou sobre o São Paulo. Não por acaso, tem sido difícil acompanhar os jogos do tricolor estando longe. Na verdade, vi apenas os dois jogos da Libertadores contra o Bolívar (o segundo, na verdade, desliguei quando fizemos 2X0, portanto, antes da vexatória virada), e alguns lances de alguns jogos do Campeonato Paulista. Mesmo assim, creio que perdi pouca coisa.

A verdade é que o ano para o São Paulo começa nesta quarta. Passar pelo Bolívar na pré-Libertadores era uma obrigação para um clube grande, tricampeão continental. E o jogo contra o Santos, com gol mal anulado de Luis Fabiano e pênalti duvidoso marcado contra, não serve de parâmetro. Mas, ao entrar em campo contra o forte, entrosado e, portanto, perigoso Atlético Mineiro, o São Paulo terá de apresentar mais do que aparentemente fez até aqui. Apesar de não contar mais com Lucas, que até agora não teve substituto à altura (situação que deverá se prolongar por um bom tempo, diga-se de passagem), o time titular do SPFC ainda é forte. E o elenco, apesar de algumas carências, é bom. Bem treinado e devidamente entrosado, tem totais condições de passar da primeira fase da Libertadores e encarar o mata-mata com força. Por ora, vamos ver como se sai nesse primeiro grande desafio.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

América Latina e Europa: perspectivas antagônicas diante da crise capitalista

No último dia 30 de janeiro, o ex-presidente Lula fez, em Cuba, um belo discurso de encerramento da 3ª Conferência Internacional pelo Equilíbrio do Mundo (ver aqui). Nele, Lula destacou, com a clareza que lhe é peculiar, a necessidade da integração latino-americana, tema caro a José Martí (líder da independência cubana, que foi homenageado no evento) e destacou ações de seu governo, e dos governos da onda progressista que varre o continente, que nos ajudaram a melhorar os indicadores sociais e a enfrentar, da maneira menos traumática possível, a crise capitalista mundial. 

Curiosamente, no mesmo dia, aqui na França, mais uma manifestação por melhores salários e condições de emprego, agora dos funcionários públicos, foi reforçada pela divulgação de índices econômicos e sociais nada animadores para os franceses: 285.000 desempregados em 2012, atingindo 10,25% da população (o segundo pior ano, em termos de desemprego, da história francesa), 0,3% de crescimento previsto para 2013 e 1132 fábricas fechadas nos últimos três anos. Some-se a isso o iminente fechamento de unidades de outras grandes indústrias, como a Renault, a Goodyear e a Virgin, bem como os estudos que mostram uma grande porcentagem dos franceses que vivem em habitações precárias, e se terá uma boa amostra do quadro social preocupante da França (que não se difere de grande parte do panorama europeu).

O contraste é evidente: enquanto o desemprego, no Brasil, por exemplo, atingiu o menor nível histórico em 2012, o poder de compra dos salários subiu, as condições de vida da parcela mais pobre da população melhoraram e a desigualdade social atenuou-se, em grande parte da Europa, dá-se o inverso. Aliás, é uma situação duplamente antagônica: afinal, não apenas os momentos de América Latina e Europa são díspares quanto – e esse é o dado relevante – o lado mais atingido pela crise, possivelmente pela primeira vez na história, mudou. O grande número de pedintes nas ruas e metrôs de Paris – levando-se em conta que estamos num país de primeiro mundo, com alto IDH etc. – reflete bem esse momento inédito.

Ora, mas tão curiosa quanto essa situação, que inverte os lados da história, é a “solução” que os europeus, novamente em oposição à receita latino-americana, insistem em adotar para sair da crise. Inclusive aqui na França, com um governo teoricamente mais à esquerda, mas que, na prática, e por conta de fortes pressões, neste ponto pouco tem se diferenciado de seu antecessor (não por acaso, aliás, os jornais franceses indicam que a lua de mel dos movimentos sociais com Hollande parece ter chegado ao fim). Curiosa porque, se, como bem explicou Lula no discurso supracitado, as políticas públicas levadas a cabo pelos governos de esquerda da região (distribuição de renda via programas sociais, expansão do mercado interno, e consequente diminuição das desigualdades históricas etc.) foram determinantes no enfrentamento positivo da crise, aqui se pressiona (a começar pela mídia) no sentido diametralmente oposto: reivindica-se a reformulação do papel do Estado e da função pública na vida cotidiana, com a desculpa de se cortar gastos para garantir o equilíbrio fiscal, e assim desmantelar o “caro” Estado de Bem-estar social.

Essa receita europeia nada tem de nova: trata-se, afinal, da adoção ainda mais aprofundada do falido receituário neoliberal, que submete o interesse coletivo ao interesse privado (no caso, dos bancos, das grandes corporações etc., únicos a ganhar com a crise). Diante disso, o problema que se coloca é que o “antídoto” europeu à crise – e que infelizmente, vale insistir, mesmo o governo socialista francês, eleito sob a égide do changement (mudança) tende a adotar – é justamente o que está na origem da própria crise: a ausência de controles estatais sobre a circulação do capital, a financeirização crescente da economia, o aumento astronômico da liquidez do capital ficíticio das grandes empresas, a subordinação da res pública, isto é, da “coisa pública” ao setor privado, a dissolução das conquistas sociais etc. Ora, a única solução plausível no combate à crise é justamente reverter essa lógica – que, no limite, é a própria lógica do capital em sua fase contemporânea. Mas, para isso, é preciso um Estado ativo, orientado por políticas públicas eficazes, direcionadas para o crescimento com distribuição de renda, para geração de emprego e aumento do poder de compra do salário, para o fortalecimento do mercado interno nacional e para a garantia de direitos, e não um poder público vassalo das regras ditadas pelo mercado. “É o óbvio”, disse Lula em sua conferência. Faltam os governantes dos países centrais do capitalismo, especialmente aqueles mais à esquerda, como Hollande, perceberem tamanha obviedade. Como complementou o ex-presidente brasileiro, ganharíamos todos com esse gesto.