quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Soneto de aniversário

Nesse dia mais do que especial para minha esposa, Angelica, dedico a ela este poema, de Vinícius de Moraes.

Angel, que venham muitas outras primaveras!
















Soneto de aniversário
(Vinícius de Moraes)

Passem-se dias, horas, meses, anos
Amadureçam as ilusões da vida
Prossiga ela sempre dividida
Entre compensações e desenganos.

Faça-se a carne mais envilecida
Diminuam os bens, cresçam os danos
Vença o ideal de andar caminhos planos
Melhor que levar tudo de vencida.

Queira-se antes ventura que aventura
À medida que a têmpora embranquece
E fica tenra a fibra que era dura.

E eu te direi: amiga minha, esquece....
Que grande é este amor meu de criatura
Que vê envelhecer e não envelhece.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Queen - Bohemian Rhapsody

Em tempos de Rock in Rio, vale relembrar uma das melhores bandas que já passaram pelo festival, o Queen. No vídeo, extraído da apresentação da banda na primeira edição do Rock in Rio, em 1985, o clássico Bohemian Rhapsody, numa versão arrasadora.


terça-feira, 10 de setembro de 2013

A última cartada

Quando Paulo Autuori foi contratado pelo São Paulo, afirmei aqui que, não obstante sua capacidade e seu passado vitorioso no clube, tinha um enorme pé atrás em relação a seu nome. Seu retrospecto recente no futebol brasileiro não o avalizava para ser o técnico capaz de cumprir a missão (que se anunciava necessária desde aquele momento) de salvar o time de um eventual rebaixamento. No final das contas, acho que ele fez um trabalho razoável, tendo em vista o limitadíssimo elenco do tricolor paulista e a maratona de jogos que enfrentou desde que chegou, que o impossibilitou de treinar adequadamente o time. Mas, claramente, se o São Paulo quiser se salvar, um trabalho mediano já não basta. Autuori parecia não ter mais de onde tirar forças para fazer o São Paulo reagir. Por isso, acho que sua saída, faltando “ainda” um turno, foi acertada. Era preciso fazer algo.

Nesse sentido, Muricy é a aposta derradeira de salvação de uma diretoria completamente perdida. Cansei de criticar a administração JJ, que montou esse elenco pífio de segunda divisão, mas acho que a contratação do técnico tricampeão brasileiro foi, finalmente, um acerto. Deveria ter vindo antes, é verdade (justamente no momento da contratação de Autuori). Mas, ainda chega a tempo de tentar um daqueles milagres que, volta e meia, acontecem nesse esporte tão fascinante quanto imprevisível.

Sim, porque é disso que se trata. Muricy representa, de fato, o último suspiro de esperança que o SPFC pode dar neste ano. Realmente não sei se, em longo prazo, ele conseguirá extrair de um time tão fraco algo mais do que foi produzido até aqui. Não porque duvide de sua capacidade, claro, mas pela situação em que chega. De qualquer forma, já foi possível perceber, nessas horas que sucederam ao anúncio de seu retorno, que o impacto imediato é altamente positivo: basta ver as manifestações dos torcedores pelas redes sociais. Apoio praticamente unânime. Todo são-paulino sabe que, dessa vez, ou vai ou racha. Agora, é preciso que esse impacto positivo seja absorvido também pelos jogadores. Aí é o mais difícil. É onde, justamente, Muricy terá que mostrar sua capacidade, e fazer o clima de euforia gerado por sua contratação se reverta em confiança para o time, num futebol mais competitivo e, acima de tudo, capaz de conseguir os resultados que precisamos. Para ontem.

Criar esse círculo virtuoso não será fácil. Mas, temos um turno para não terminar esses três anos de desmandos e bobagens feitas pela atual administração no maior desastre futebolístico da história do clube. 18 jogos, já que estamos a quatro pontos (portanto, dois jogos) de sair do Z4. A cartada final foi dada. Resta torcer.

domingo, 8 de setembro de 2013

Viva Allende!

No próximo dia 11 de setembro se completam 40 anos do golpe dado pelo general Augusto Pinochet, no Chile. Com ajuda direta da CIA (o serviço de inteligência norte-americano), o golpe acabou com a primeira experiência de um governo de viés socialista/marxista democraticamente eleito, o de Salvador Allende, implementando naquele país uma ditadura das mais sanguinárias do século XX, e que durou até 1990.

Num momento em que mais uma guerra imperialista se avizinha, em que a América Latina avança pela esquerda, e em que explodem denúncias de espionagem dos EUA em países como o Brasil, visivelmente por conta da posição estratégica que nosso país ocupa (em termos de liderança regional e mesmo global, em relação a seus recursos energéticos e a seu potencial produtivo etc.), nunca é demais resgatar a experiência chilena – e o papel ativo que os norte-americanos desempenharam no golpe que pôs fim ao governo Allende. É sempre preciso lembrar o modus operandi frequentemente adotado pelos EUA, que não conhece quaisquer escrúpulos para salvaguardar os interesses do capital, se colocando sempre disposto a agir, da maneira que convier, para sufocar o menor sinal de autonomia de seus “subordinados”. A experiência chilena também nos ensina que a direita, mesmo num ambiente de aparente estabilização democrática, está disposta a tudo para impedir o sucesso de qualquer governo que se disponha a mexer em seus interesses: de sabotagens econômicas a manobras políticas ilegais, inclusive com auxílios externos, tudo vale em nome da manutenção da ordem vigente. E que, diante disso, a análise correta, sem mistificações, da chamada “correlação de forças” é um elemento imprescindível: conquistar o Estado e conquistar o poder são coisas que nem sempre caminham juntas - e esse descompasso jamais pode ser negligenciado numa análise política. Por fim, a via chilena também nos alerta que, num quadro de tensão, o inimigo pode estar mais perto do que se imagina: nunca é demais recordar que Pinochet, até então homem de confiança de Allende, foi nomeado, poucas semanas antes do golpe, chefe das Forças Armadas chilenas, numa das últimas tentativas do presidente socialista de conter o processo de golpe em curso.

Mas, acima de tudo, o legado e o exemplo de Allende devem servir de inspiração e força para as lutas que temos travado, cotidianamente, no Brasil e na América Latina. Mais do que nunca, é preciso dizer a plenos pulmões: Allende vive!

Enfim, deixo vocês com o heróico discurso final de Salvador Allende, de dentro do Palácio Presidencial La Moneda, momentos antes do bombardeio ali realizado pelo exército chileno que, selaria o golpe.

"Mais cedo do que tarde, se abrirão novamente as grandes alamedas por onde passará o homem livre, para construir uma sociedade melhor" (Salvador Allende)

domingo, 1 de setembro de 2013

O conceito de Deus na filosofia de Espinosa

Baruch de Espinosa é um dos mais importantes e instigantes pensadores de todos os tempos. A ponto de Henri Bergson, importante filósofo do século XX, declarar que “todo filósofo tem duas filosofias: a sua própria e a de Espinosa”.

Sua filosofia visava combater toda forma de superstição (aí incluso aquelas de caráter religioso) e servidão dos homens a seres e poderes irracionais ou ocultos, por meio de um racionalismo absoluto. Confiante nos poderes libertadores da Razão, Espinosa vê em seu bom uso o caminho para a aquisição de ideias adequadas sobre nós mesmos e o universo. Não por acaso, portanto, um dos pontos-chave da filosofia espinosana é seu conceito de Deus.

Na Ética, seu principal livro, Espinosa constrói geometricamente a gênese da ideia adequada de Deus. O ponto de partida espinosano é o conceito, caro à filosofia moderna, de substância. Substância é aquilo que existe em si e por si mesmo, e sem o qual nada que existe pode ser concebido. Se é assim, se toda substância só o é na medida em que é causa de si mesma, diz Espinosa, só pode haver uma substância no universo. Tal substância, ao causar-se a si mesma, causa a essência e a existência de todos os demais seres. A substância é, pois, o Absoluto. Esse Absoluto é o próprio Deus. Mas, da própria assimilação de Deus à substância uma que é causa de tudo o que há, não se pode pensar a entidade divina como um ser situado em outro local (portanto, transcendente, conforme acreditam as religiões como o cristianismo, o judaísmo ou o islamismo) mas de um ser imanente ao próprio universo. Quer dizer, Deus é o próprio universo, sua causa imanente, a substância absoluta que – forçosamente infinita (se fosse finita, teríamos de admitir a existência de uma outra substância que a limitasse), se exprime de infinitos modos. Deus sive Natura, Deus ou Natureza: não há distinção entre ambos, mas a própria Natureza é Deus na medida em que é a expressão (também temporalmente infinita) de Seus infinitos atributos. Por conseguinte, não há relação de servidão entre o homem e Deus, pois não há criação, no sentido teológico do termo. Cada um de nós é resultado do processo de auto-produção de Deus: exprimimos seu Ser e Ele existe através de nós.

Deste modo, a Ética derruba os pilares de todo o construto teológico-metafísico baseado na ideia da transcendência de Deus ao mundo, ou seja, erguido sobre a imagem de um ser supremo, apartado do mundo, que o criou a partir do nada, e que o conduziria de acordo com princípios incognoscíveis para nossa razão. Para Espinosa, Deus é a força imanente ao mundo e este é Sua expressão.

Naturalmente, a concepção espinosana é polêmica. Não por acaso, foi imediatamente condenada pela Igreja, que via nela uma ameaça a seu poder, baseado no monopólio da mediação entre o homem e Deus. Contudo, a meu ver, sua força e sua beleza residem justamente em seu poder de revelar, de modo visceral, a ligação imanente do finito ao infinito, o parentesco profundo que compartilhamos com a totalidade do universo, de modo que nenhuma religião, nem nenhuma filosofia posterior, seria capaz de exprimir. Melhor ainda: sem recorrer a qualquer forma de magia ou superstição, sem nos submeter servilmente a qualquer poder externo coercitivo, mas apenas seguindo os preceitos libertadores da Razão.