Assistimos, nessa semana, um dos
mais duros – se não o mais duro – golpe em nossa democracia, pelo menos desde a
promulgação da atual Constituição, em 1988. A$ manobra$ do presidente da Câmara, Eduardo Cunha,
primeiro, para votar a reforma política ao arrepio das discussões precedentes
sobre o tema; e, depois, para incluir o financiamento empresarial de campanhas,
menos de 24 horas depois de ver a mesma proposta ser rejeitada pelo plenário,
foram um acinte à vontade popular. Além disso, tornaram (ainda mais) explícitas a
corruptibilidade de grande parte de nossos deputados e, de quebra, passaram um
recado inequívoco de quem manda na agenda do país. Nossa política tem um dono.
Há de se notar, porém, que tais
manobras golpistas talvez pudessem ter sido evitadas, por exemplo, se o governo
tivesse tido o mesmo empenho em relação à reforma que teve em relação ao
nefasto ajuste fiscal. Mas, olimpicamente, diferente do que fez em relação às MPs 664 e 665, o Executivo optou por não tomar parte nas discussões daquilo que é a essência
dos problemas da vida política brasileira: a interferência indevida do poder
econômico sobre ela. Terminará, mais cedo ou mais tarde, pagando o preço por
essa renúncia – tanto quanto todos nós.
A meu ver, depois do que ocorreu
nesta quarta-feira, fica evidente que a democracia brasileira está em
frangalhos. No mesmo dia em que nos animamos ao ver o mega esquema de corrupção
na FIFA começar a ser desbaratado, com prisões de figurões, o Brasil, pela$ mão$
de Cunha e seus asseclas, optou por inscrevê-la como meio legítimo – talvez, o
único – de se fazer política no país. Com isso, o presidente da Câmara (que
está no cargo há três meses, embora o pareça estar há três anos) demonstrou mais uma vez que
vai fazer o que for nece$$ário para impor sua pauta negativa. Nessa hora, os
batedores de panela se calam – por conveniência ou por ignorância. Movimentos
sociais e partidos de esquerda se encontram na defensiva e, aparentemente, têm pouca
força para promover uma mobilização popular capaz de reverter o desastre (evitar que o Senado ratifique a posição dos deputados, por exemplo). Até
porque, não encontram ponto de apoio no Executivo que elegeram, pois este, optando
por um caminho suicida, tanto na política, quanto na economia, não dá sinais
de que possa (ou mesmo queira) se contrapor ao poder do presidente da Câmara. Prefere concentrar suas energias em "acalmar os mercados". O
cenário para os próximos tempos não poderia ser pior.