Desde o final do ao passado, o
fenômeno dos “rolezinhos” nos shopping centers brasileiros tem causado
polêmica. A princípio, nada de mais: um grupo de jovens que marca encontros
para passear naqueles espaços, cantar e se divertir. O problema surge porque este
grupo de jovens tem características que o afasta daquele que, até pouco tempo,
era considerado o “público” dos shoppings: são negros, de periferia, com moda,
estética e linguajares próprios.
Mesmo, em nenhum caso, não tendo feito nada
que justificasse qualquer temor a priori,
o medo se instalou entre (grande parte d)os frequentadores e comerciantes. No
último final de semana, alguns shoppings de São Paulo conseguiram uma liminar
impedindo a entrada de jovens em grupo “desacompanhados” e, ainda, ficando
aptos a multar em 10 mil reais quem transgredisse a norma. Institucionalizaram,
assim, uma nova e vergonhosa forma de apartheid
social.
É verdade que, por definição, o
shopping é um espaço de exclusão. No entanto, as transformações econômicas e
sociais do último período fizeram com que uma parcela da sociedade que não
tinha acesso a esses espaços, começasse a frequentá-los. O resultado tem sido semelhante
àquele observado em aeroportos, faculdades ou outros locais até então
“exclusivos” de determinados setores de nossa sociedade: um incômodo profundo e
mal-disfarçado devido à presença de “estranhos”. A grande sacada do rolezinho
foi escancarar abruptamente (com ou sem a intenção de seus participantes, não
importa) esse mal-estar, revelando, no mesmo gesto, sua origem: o preconceito
social e racial enraizado em nossa sociedade, em particular, em nossa elite e
em setores da classe média.
Quando adentram os shoppings, cantando
suas músicas, vestindo-se a seu modo (e, porque não tem qualquer interesse para
a análise deste fenômeno, não está aqui em questão qualquer juízo sobre a
“qualidade” ou não das músicas, das roupas, da linguagem etc.), esses jovens denunciam,
igualmente, algo que muitas vezes, de tão habitual, não nos damos conta: a
profunda “privatização” de todos os domínios de nossa vida, em especial, do
espaço público das cidades, cada vez mais transferido à esfera privada e, por
conseguinte, criador de cenários crescentemente excludentes, com os quais todos
tendem a se acostumar – por isso, achando normal que cada setor da sociedade
tenha seu lugar próprio, seu gueto; de preferência, na visão dominante, que os
antagonistas sociais estejam o mais afastado possível uns dos outros.
Deflagra-se, assim, um movimento em
completo descompasso com aquele de inclusão econômica que estes jovens e suas famílias vivenciaram nos últimos tempos. A contradição torna-se, então,
insustentável. Mas, dado aquele preconceito latente, não surpreende que a
“solução” de nossa elite seja reagir de forma a expurgar essa contradição,
afastá-la de modo autoritário, e não tentar resolvê-la democraticamente.
Ora, o grito desses jovens é, no
fundo, a justa manifestação por espaço – pelo espaço que, como sociedade,
não damos, nunca demos, e que, agora, eles legitimamente vêm cobrar. No mesmo
tom, nos evidenciam como as transformações culturais, de consciência e
percepção de mundo, são mais lentas e difíceis de serem construídas do que
aquelas restritas ao âmbito material.
Muito bom o texto. Parabéns!!
ResponderExcluirObrigado!
ExcluirHahahaha, tenho que rir, shopping é um lugar PRIVADO, a grande parte desses jovens que vão dar um rolezinho no shopping vão lá pra INFERNIZAR a vida dos outros, sim, infernizam, pessoas ficam com medo deles, pq se eles quiserem dominar e roubar todo mundo eles conseguem, e não vem falar que shopping é lugar de exclusão pq eu sempre vi pessoas de favelas, pobres, etc, frequentando shopping, cinemas, lojas, e eu sou pobre tbm, e nunca fui barrada, sempre frequentei esses lugares, sendo que a maioria do pessoal do rolezinho são ''boyzinhos'' querendo pagar uma de ''malandrinho''. Vc viu o que aconteceu com os policias civis que foram proibir CRIANÇAS de 14 anos que estavam consumindo bebidas alcoólicas? Sendo que pela Lei nº 14.592 que ''Proíbe vender, ofertar, fornecer, entregar e permitir o consumo de bebida alcoólica, ainda que gratuitamente, aos menores de 18 (dezoito) anos de idade, e dá providências correlatas'' . Eles quase mataram o policial, esses são as pessoas ''pessoas de bem''? E qualquer pessoas que olhar torto pra eles, eles podem fazer o mesmo que fizeram com o policial, sei que não são todos, mas a maioria. Não queira defender os pobres e oprimidos se tornando um cego...
ResponderExcluirOlha, começando pelo fim: abusos podem acontecer em qualquer lugar. Usar um caso para generalizar um fenômeno social, me parece cientificamente equivocado, para dizer o mínimo. Além disso, embora o shopping seja um lugar privado, pela lei, é proibido discriminar qualquer consumidor (e, quem está no shopping, ou se dirigindo a ele, é consumidor em potencial), por qualquer motivo que seja. Além disso, duvido que 2000 playboys brancos, com carteirinha da USP, e cantando músicas em inglês, causariam medo e pânico a priori. A reação a esses rolezinhos escancaram, para mim, o profundo preconceito que existe em nossa sociedade. Demonstram, inclusive, que não precisa ser rico para internalizar esse preconceito. No mais, mesmo discordando, agradeço a opinião.
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