Como fazia com frequência,
naquele domingo eu tinha arrumado meus carrinhos no tapete da sala e demarcado
ali, com alguns objetos da minha mãe, um circuito de corridas. Enquanto os
carros de Fórmula-1 disputavam na pista de Ímola, eu, embalado por minha imaginação
juvenil, reproduziria a corrida na sala de casa. O campeonato, é verdade, não
estava dos mais animadores. Depois de anos na McLaren, Senna havia trocado a
clássica escuderia inglesa pela Willians, à época, a melhor do campeonato. No
entanto, as primeiras corridas tinham sido desanimadoras. O GP de Ímola era a
chance de recuperação. Com 6 anos no tri-campeonato de Ayrton, eu sonhava em ver Senna , mais uma vez,
campeão. Agora, mais consciente do que isso significava.
TV ligada e carrinhos a postos. Um
olho lá, outro cá. Foram milésimos de segundos que separaram um último
movimento nos carrinhos e a frase marcante de Galvão Bueno, “Senna bateu forte!”.
Em poucos minutos, o inimaginável se tornava cada vez mais real. Chamei minha
mãe e saí correndo de casa. Meu pai, naquele dia, acompanhava um jogo de
futebol amador em um campo de várzea a alguns quarteirões de casa. Cheguei lá
correndo. Com a frase que ninguém sonhava que seria dito naquele domingo, 1º de
maio de 1994: “Pai, o Senna morreu!”. Não só ele, como outras pessoas ali na
arquibancada, me olharam assustados. “Não é possível”, diziam. Ou pensavam. Mas
era.
À tarde, fui até a casa dos meus
avós, e vi meu tio em
lágrimas. Não só ele. O Brasil inteiro estava. O golpe havia
sido duro demais. Ayrton Senna havia partido. Os domingos não seriam mais os
mesmos. O automobilismo não seria mais o mesmo. Acho que nem nós seríamos mais
os mesmos.
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