terça-feira, 29 de abril de 2014

20 anos. Mas parece que foi ontem

Como fazia com frequência, naquele domingo eu tinha arrumado meus carrinhos no tapete da sala e demarcado ali, com alguns objetos da minha mãe, um circuito de corridas. Enquanto os carros de Fórmula-1 disputavam na pista de Ímola, eu, embalado por minha imaginação juvenil, reproduziria a corrida na sala de casa. O campeonato, é verdade, não estava dos mais animadores. Depois de anos na McLaren, Senna havia trocado a clássica escuderia inglesa pela Willians, à época, a melhor do campeonato. No entanto, as primeiras corridas tinham sido desanimadoras. O GP de Ímola era a chance de recuperação. Com 6 anos no tri-campeonato de Ayrton, eu sonhava em ver Senna, mais uma vez, campeão. Agora, mais consciente do que isso significava.

TV ligada e carrinhos a postos. Um olho lá, outro cá. Foram milésimos de segundos que separaram um último movimento nos carrinhos e a frase marcante de Galvão Bueno, “Senna bateu forte!”. Em poucos minutos, o inimaginável se tornava cada vez mais real. Chamei minha mãe e saí correndo de casa. Meu pai, naquele dia, acompanhava um jogo de futebol amador em um campo de várzea a alguns quarteirões de casa. Cheguei lá correndo. Com a frase que ninguém sonhava que seria dito naquele domingo, 1º de maio de 1994: “Pai, o Senna morreu!”. Não só ele, como outras pessoas ali na arquibancada, me olharam assustados. “Não é possível”, diziam. Ou pensavam. Mas era.

À tarde, fui até a casa dos meus avós, e vi meu tio em lágrimas. Não só ele. O Brasil inteiro estava. O golpe havia sido duro demais. Ayrton Senna havia partido. Os domingos não seriam mais os mesmos. O automobilismo não seria mais o mesmo. Acho que nem nós seríamos mais os mesmos.


Nenhum comentário:

Postar um comentário