A declaração do técnico do Vasco,
Adílson Baptista, após o empate de sua equipe diante do América/MG, pela
primeira rodada do Campeonato Brasileiro da série B, sugerindo que o mau
resultado de sua equipe era culpa da situação político-econômica do Brasil, e
arrematando declarando-se “anti-PT” (leia aqui), me chamou muito a atenção. Não pela posição de
Adílson, que tem o direito de ser contra ou a favor do que bem entender. Mas
porque a insólita menção à política nacional, em especial a oposição a um
partido, numa entrevista após uma partida de futebol (em que o treinador
tentava justificar o mau desempenho de sua equipe), não me aprece um caso
isolado ou excêntrico de confusão ou deslocamento de assuntos. Trata-se, a meu
ver, de mais uma sinalização de uma verdadeira doença (e não encontro outro termo para definir a situação) que tem
tomado conta de parte do país: o anti-petismo.
Antes de tudo, porém, é preciso
diferenciar as coisas: como disse a respeito de Adílson, todo mundo pode ser contra
ou a favor do que quiser. Mesmo com todas as suas imperfeições, vivemos, afinal
de contas, sob a égide de um regime democrático, em que qualquer cidadão deve
ter o direito de manifestar publicamente suas posições e opiniões e defendê-las
isonomicamente. Mas, o que tenho notado, é um processo de transformação da
posição contrária ao governo Dilma e ao PT, num fanatismo doentil, que beira a
insanidade. Sem maior preocupação com uma data exata, creio que isso tenha ganhado
força a partir do julgamento do “Mensalão”. Nos últimos tempos, aquela oposição
parece avançar para além da disputa política strictu sensu. O que a justiça tem feito com José Dirceu é exemplar;
mas não é único. E, sinceramente, não sei até que ponto isso pode chegar. Mas, confesso
que tenho me assustado. Não creio que seja brincadeira. Para mim, essa posição
doentia está saindo do controle. Nunca havia visto um fuzilamento tão grande em
relação a um grupo quanto tenho percebido – nas ruas, nas salas de aula, na TV,
na internet e, agora, até em coletivas de técnicos de futebol! – em relação ao
PT e ao atual governo. Não se trata mais daquela oposição política que
determinados setores sempre nutriram contra o PT. A oposição de classe – e é disso que se trata –
tornou-se algo completamente insano, principalmente capitalizada pelo poder da
internet e das redes sociais: profusão inesgotável de mentiras e calúnias
infundadas, responsabilização injustificada por tudo o que acontece de ruim no país, julgamentos morais negativos a priori, enfim, uma série de situações
em que o PT tornou-se uma espécie de demônio que deve ser exorcizado da vida pública.
Parece não haver mais limites à externalização do ódio ao partido, seus
membros, os setores que ele representa, e o governo. Tampouco ao desejo de que
o PT seja, literalmente, eliminado do mapa.
E novamente, para não deixar
dúvidas: não digo isso por ser um sentimento que se ergue contra meu partido. Escrevo
essas linhas porque prevejo se avizinhar, a partir da combinação Copa do Mundo
e eleições presidenciais, um verdadeiro massacre ao PT. E este massacre pode,
sim, representar um duro golpe à nossa democracia, na medida em que visa extinguir
– e este é o ponto central de minha preocupação – um representante político legítimo
de vastos setores populares. Ou seja, um perigosíssimo precedente anti-democrático poderia se abrir.
Como se vê, não estou entre
aqueles que enxerga nas pesquisas eleitorais, que por ora apontam uma vitória
até que relativamente tranquila de Dilma, uma certeza em relação ao futuro do
governo e de seu principal partido de sustentação. Pelo contrário: temo que,
justamente por conta dessa tendência (amparada pelo notável trabalho que os
governos petistas vem realizando junto aos setores mais carentes da população,
sempre é bom lembrar), o massacre ao PT e à presidenta se intensifique até
tornar-se insustentável. Seja insustentável a ponto de significar uma
reviravolta no cenário eleitoral presente, e decretar à fórceps o fim do governo petista. Seja no que diz respeito à “governabilidade”
num próximo mandato. Pois o anti-petismo tornou-se, de fato, uma doença
crescentemente incutida em alguns segmentos da sociedade brasileira. Caso ela
se alastre, como numa metástase incontida – que pode afetar a percepção,
inclusive, daquela parcela que hoje apoia o governo (ou mesmo aquela que, sendo
contrária, ainda mantém um mínimo de civilidade e espírito democrático) –
receio, honestamente, que os desdobramentos possam ser piores do que se pode
imaginar.
Pode ser (tomara!) um exagero de minha
parte. Afinal, escrevo este texto tendo como mote o depoimento desconexo de um
treinador de futebol. Mas, na verdade, essa foi apenas a “gota d’água” do que
tenho sentido. Por isso, até me provem o contrário, me reservo o direito de ver
em casos como este (que, repito, parecem se multiplicar assustadoramente), um
sinal que essa doença pode se agravar. Por isso, acho que o PT e os setores
populares que ele representa deveriam reagir. Erguer a voz. Partir para a
disputa política, disputa de consciências, como corretamente solicitou, dias
atrás, o ex-presidente Lula. Não apenas com o intuito de dar prosseguimento ao
nosso projeto. Mas, fundamentalmente, com o intuito de que nossa voz não seja
calada na marra. Afinal, como diz um ditado, com doença não se brinca.
so pode mesmo ser um petista!!!doenca eh cegar aos planos obcuros do pt para o brasil e fazer vista grossa a esse massacre de desinformacao pretendida pela hidra e suas 7 cabecas...
ResponderExcluirOlha, acho que seu comentário apenas ratifica a ideia do post. Mas, obrigado por comentar.
Excluira camila pavaneli escreveu um texto sobre o anti-petismo. outro enfoque, mas tão bom qto o seu.
ResponderExcluirOi Fer! Obrigado! Pode me passar o link?
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