As últimas pesquisas da corrida
presidencial colocaram a disputa em um patamar mais factível. Passada a comoção
pela morte de Eduardo Campos e o turbilhão causado pela entrada em cena de
Marina Silva, temos agora um cenário menos emotivo e mais cristalizado. Nele, a
presidenta Dilma lidera, com alguma folga, a disputa do primeiro turno, e
estaria em empate técnico com a candidata do PSB no segundo.
Nesta situação, vale ainda dizer,
a possibilidade de Dilma vencer ainda em primeiro turno existe (ela teria, em
média, entre 40 e 45% dos votos válidos, segundo as pesquisas). Mas,
honestamente, como já disse aqui em outros posts,
não creio que essa possibilidade possa se tornar realidade. Logo, tampouco
entendo que a militância pró-Dilma deva se pautar por ela. É preciso ter
humildade e pé no chão nesta reta final de campanha.
Mais ainda: ao que tudo indica, não
apenas teremos um segundo turno, como a disputa, doravante, deverá ser bastante
equilibrada e singular. Ao galgar apoio dos setores mais conservadores (como o
Clube Militar e o pastor Silas Malafaia), adotar práticas estranhas à sua
biografia (como a censura ao site Muda
mais, de simpatizantes da presidenta Dilma), e incorporar grande parte do programa tucano ao seu, sobretudo na
economia (como a independência do Banco Central, a revisão da CLT e do modelo
de partilha do pré-sal), Marina selou sua candidatura com um surpreendente e
infeliz giro à direita. E este giro, contraditoriamente combinado com uma
posição messiânica da candidata, auto-proclamada a encarnação do “espírito de
junho” e da “nova política”, tem tornado essas eleições extremamente perigosas.
Sobretudo porque essas ambiguidades da candidatura do PSB têm permitido a
alguns setores, mais do que a candidatura tucana autorizaria, suprimir o debate
de ideias, e dar vazão a um irracionalismo inédito, na medida em que opõem, ao
petismo e seus simpatizantes, um anti-petismo que atingiu, em várias camadas,
níveis doentios inéditos, de ódio – como se o PT fosse o responsável por todos
os males que assolam o país (leia
aqui o post que escrevi sobre a “doença do
anti-petismo”, em abril deste ano). Nesse quadro, Marina se beneficia justamente
por se apresentar como a materialização daquele sentimento difuso (que, muitas
vezes, tem vergonha de se explicitar), ao mesmo tempo em que parece estar imune
ao ranço negativo que persegue os tucanos – inclusive Aécio – desde o fim do
governo FHC.
Diante disso, entendo que a
polarização irracional promovida pela frente anti-PT só pode ser vencida pelo
aprofundamento do discurso político. Isso significa compreender que
a disputa não se dá no terreno tecnocrático (quem é a melhor administradora), tampouco
no desprezível discurso de ódio recíproco (que é arma dos que não têm
argumentos), mas no plano ideológico.
Estão em debate dois projetos antagônicos de país: um, democrático-popular, que
com seus inúmeros acertos e, sem medo de dizer, também com seus erros,
insuficiências e contradições, tem feito o Brasil um país menos desigual, mais
democrático, inclusivo e soberano. O outro, de corte neoliberal, cuja adoção significaria
interromper o caminho de superação de nossos problemas crônicos, retroceder nos
avanços sociais e lançar o país no caos econômico que atingiu a Europa e os EUA
nos últimos anos. Um projeto subserviente aos interesses de uma minoria – os
operadores do capital financeiro internacional e os grandes empresários – que
se beneficia com essa situação.
Ora, o que a adesão a estes
projetos sinaliza, ao fim e ao cabo, é a própria possibilidade de aprofundarmos
a democracia brasileira (política, econômica e socialmente), ou de
retrocedermos a um estágio do país para alguns poucos. Por isso, entendo que,
no limite, a questão central dessas eleições é a seguinte: votaremos por mais
ou por menos democracia? Por baixo da nuvem de ódio que se tenta criar, é esta
a disputa essencial do pleito de 2014. É isso, por conseguinte, que precisa,
cada vez mais, ser explicitado para toda a população.