quarta-feira, 17 de setembro de 2014

A grande questão das eleições: votaremos por mais ou por menos democracia?

As últimas pesquisas da corrida presidencial colocaram a disputa em um patamar mais factível. Passada a comoção pela morte de Eduardo Campos e o turbilhão causado pela entrada em cena de Marina Silva, temos agora um cenário menos emotivo e mais cristalizado. Nele, a presidenta Dilma lidera, com alguma folga, a disputa do primeiro turno, e estaria em empate técnico com a candidata do PSB no segundo.

Nesta situação, vale ainda dizer, a possibilidade de Dilma vencer ainda em primeiro turno existe (ela teria, em média, entre 40 e 45% dos votos válidos, segundo as pesquisas). Mas, honestamente, como já disse aqui em outros posts, não creio que essa possibilidade possa se tornar realidade. Logo, tampouco entendo que a militância pró-Dilma deva se pautar por ela. É preciso ter humildade e pé no chão nesta reta final de campanha.

Mais ainda: ao que tudo indica, não apenas teremos um segundo turno, como a disputa, doravante, deverá ser bastante equilibrada e singular. Ao galgar apoio dos setores mais conservadores (como o Clube Militar e o pastor Silas Malafaia), adotar práticas estranhas à sua biografia (como a censura ao site Muda mais, de simpatizantes da presidenta Dilma), e incorporar grande parte do programa tucano ao seu, sobretudo na economia (como a independência do Banco Central, a revisão da CLT e do modelo de partilha do pré-sal), Marina selou sua candidatura com um surpreendente e infeliz giro à direita. E este giro, contraditoriamente combinado com uma posição messiânica da candidata, auto-proclamada a encarnação do “espírito de junho” e da “nova política”, tem tornado essas eleições extremamente perigosas.
Sobretudo porque essas ambiguidades da candidatura do PSB têm permitido a alguns setores, mais do que a candidatura tucana autorizaria, suprimir o debate de ideias, e dar vazão a um irracionalismo inédito, na medida em que opõem, ao petismo e seus simpatizantes, um anti-petismo que atingiu, em várias camadas, níveis doentios inéditos, de ódio – como se o PT fosse o responsável por todos os males que assolam o país (leia aqui o post que escrevi sobre a “doença do anti-petismo”, em abril deste ano). Nesse quadro, Marina se beneficia justamente por se apresentar como a materialização daquele sentimento difuso (que, muitas vezes, tem vergonha de se explicitar), ao mesmo tempo em que parece estar imune ao ranço negativo que persegue os tucanos – inclusive Aécio – desde o fim do governo FHC.

Diante disso, entendo que a polarização irracional promovida pela frente anti-PT só pode ser vencida pelo aprofundamento do discurso político. Isso significa compreender que a disputa não se dá no terreno tecnocrático (quem é a melhor administradora), tampouco no desprezível discurso de ódio recíproco (que é arma dos que não têm argumentos), mas no plano ideológico. Estão em debate dois projetos antagônicos de país: um, democrático-popular, que com seus inúmeros acertos e, sem medo de dizer, também com seus erros, insuficiências e contradições, tem feito o Brasil um país menos desigual, mais democrático, inclusivo e soberano. O outro, de corte neoliberal, cuja adoção significaria interromper o caminho de superação de nossos problemas crônicos, retroceder nos avanços sociais e lançar o país no caos econômico que atingiu a Europa e os EUA nos últimos anos. Um projeto subserviente aos interesses de uma minoria – os operadores do capital financeiro internacional e os grandes empresários – que se beneficia com essa situação.

Ora, o que a adesão a estes projetos sinaliza, ao fim e ao cabo, é a própria possibilidade de aprofundarmos a democracia brasileira (política, econômica e socialmente), ou de retrocedermos a um estágio do país para alguns poucos. Por isso, entendo que, no limite, a questão central dessas eleições é a seguinte: votaremos por mais ou por menos democracia? Por baixo da nuvem de ódio que se tenta criar, é esta a disputa essencial do pleito de 2014. É isso, por conseguinte, que precisa, cada vez mais, ser explicitado para toda a população.


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