Muita coisa se passou no Brasil e
no mundo desde a última postagem deste blog, em meados de dezembro passado. Destaco
o restabelecimento das relações diplomáticas entre Cuba e os EUA; a nomeação do
novo – e polêmico – ministério de Dilma; e o anúncio de medidas acerca de
direitos previdenciários e trabalhistas que, no mínimo, exigem alguma
consideração crítica (sobretudo o caso das pensões por morte, que é absurdo).
Neste primeiro texto de 2015,
gostaria de traçar algumas linhas sobre o segundo ponto, pois, a meu ver, ele
sinaliza a contradição que deverá permear o segundo mandato de Dilma (ao menos,
em um primeiro momento). Não que ela já não existisse desde a chegada do PT ao
comando do governo federal. Mas, me parece que agora ela ganha contornos mais
nítidos, ou mesmo, mais dramáticos, tendo em vista o ambiente político do país.
De fato, diante da margem
estreita com que ganhou as eleições, e em face de um Congresso altamente hostil
que terá de enfrentar, Dilma aparentemente entende que só poderá governar o
país se equilibrando entre dois polos: o de esquerda, que lhe deu sustentação e
permitiu sua vitória no segundo turno das eleições, e que urge por reformas
estruturais (refletido em seu discurso de posse, inclusive no lema “Brasil:
pátria educadora”, adotado pelo governo); e o dos setores dominantes, da grande
mídia e da oposição derrotada, que, sem negar seu viés neoliberal, clamam por
uma política “austera” de cortes orçamentários e equilíbrio fiscal para "retomar o crescimento". Entendo que
a escolha do ministério traduz essa incômoda, diria esquizofrênica contradição. De um lado, as intragáveis e
negativamente simbólicas presenças de Kassab e Kátia Abreu, além do Chicago boy Joaquim Levy; do outro,
Berzoini nas Comunicações, Juca Ferreira na Cultura, ou Patrus Ananias no
Desenvolvimento Agrário.
Contudo, ainda é cedo para definir
para qual lado a balança vai pender, isto é, se esta contradição será resolvida
ou se perdurará indefinidamente. Isso vai depender, como de praxe, da capacidade
de disputa e mobilização de ambos os polos. A luta, como se vê, apenas começou.
Mas, vale adiantar, se Dilma acredita que, assumindo parte do programa derrotado,
e colocando pessoas “confiáveis” ao mercado, a determinados setores da economia,
ou a determinados partidos, ela terá estabilidade, arrisco dizer que ela se
equivoca profundamente. Na verdade, entendo que só haverá “governabilidade” se
a presidenta e seu governo se dispuserem a romper essa camisa de força na qual estão se
prendendo, e derem ao menos um passo à esquerda, propondo medidas efetivas para
resolver problemas crônicos da população brasileira – e, assim, responder
concretamente às expectativas de quem a
elegeu. Começando pela “mãe de todas as reformas” (palavras da própria presidenta),
a reforma política.
Este, me parece, é o único
caminho para superar a esquizofrenia latente deste momento político e garantir
sustentação real ao governo, criando um contraponto ao conservadorismo do
Congresso. Do contrário, imobilizada por aquela contradição (para não falar do desempenho
não tão bom da economia...), o segundo governo Dilma pode ser fácil e
definitivamente capturado pelos poderosos setores que, neste momento, talvez ainda acuada, ela tenta
agradar – mas cujo projeto, nunca é demais lembrar, foi rejeitado pela quarta
vez seguida em outubro passado.
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