No último sábado, tive a felicidade de assistir ao show dos Rolling Stones em São Paulo. Na viagem de volta, ainda extasiado, fiquei tecendo alguns paralelos, mezzo pessoais, mezzo filosóficos, comparando aquela apresentação com outro grande show que vi há alguns anos (em 2012, para ser mais preciso): o do Kiss.
A visível alegria ao executar cada canção, a
simplicidade e a desenvoltura no palco, são sinais inequívocos de que aqueles
quatro senhores estão ali como se estivessem em uma roda de amigos celebrando a
vida. Nesse sentido, e para retomar um breve interlúdio filosófico, o show dos
Stones é quase uma experiência estoica: o chamado a um completo desligamento do
mundo, das preocupações, dos medos, das angústias, e um convite a nos conectar
com aquilo que realmente deveria importar: a alegria de viver! It's only rock'n'roll, but...
Como se sabe, a banda norte-americana é caracterizada,
dentre outras coisas, por proporcionar um dos maiores espetáculos ao vivo da
face da Terra. E não é exagero. Porque, mais do que um show de rock,
trata-se de um verdadeiro teatro, no melhor sentido do termo: sem que seja
mecânico, cada detalhe é refletido, cada movimento – me perdoem o clichê – é
friamente calculado. Desde a descida na introdução, ao som do riff de Detroit rock city, até o
final apoteótico, com o hino Rock
and roll all nite, tudo serve para criar uma singularíssima experiência
sinestésica, na qual os sentidos são constantemente embaralhados, visão e
audição se interpenetram e, para falar como Merleau-Ponty, a partir de certo
ponto, não sabe sabe mais onde termina uma e começa a outra.
Por exemplo, naquela ocasião, tive a oportunidade de ficar
próximo ao mini-palco onde Paul Stanley aterrissa e canta Love gun. Desnecessário dizer
que a imagem de Paul voando em “minha” direção jamais será esquecida. Mas, mais
do que isso, ela representa bem a sinestesia que mencionei acima: naquele
momento, em meio aos acordes poderosos da música, não sabia se via, ouvia,
cantava, ou tentava me aproximar do palco... Na verdade, fazia tudo ao mesmo
tempo, literalmente tragado, envolvido pela atmosfera cuidadosamente criada por
aquela expressão artística ímpar.
O caso dos Stones é diferente. É claro, igualmente, uma
superprodução, mas que se encaminha por outra via. Mick, Keith, Ron e Charlie
parecem quatro jovens que acabaram de sair do bar, e pegaram seus instrumentos
para animar a galera. “O que vamos tocar?”, “Lembra daquela?”, “Me dá um Si
maior”, e pronto: Jumpin' Jack
Flash explode diante da
audiência, convidando-nos para a festa.
Não, não me atreveria a dizer qual o melhor. Na verdade,
não há. São apenas duas representações diferentes de uma mesa essência, de uma
mesma atitude diante do mundo, e que apenas a arte – e o rock, em particular –
pode proporcionar. Por isso, fico feliz apenas por ter a sorte de tê-las
vivenciado.
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