Sobre os acontecimentos políticos da semana, mais uma vez recoloco aqui o que postei no Facebook pela manhã.
1-) Não se combate a corrupção - que é uma violação da lei - com violações da lei. Justiça, em um Estado democrático, não é vale tudo, não é vingança. Há uma série de procedimentos para denunciar, recolher provas e condenar alguém, que devem ser seguidos no processo de todo e qualquer cidadão – gostemos dele ou não. E um operador do Direito, como o juiz Sérgio Moro, deveria ser o primeiro a reconhecê-lo.
2-) A atitude de Moro, ontem, foi estritamente política. Do ponto de vista jurídico, ele deveria apenas remeter os áudios ao ministro Teori Zavascki, do STF, que tomaria os encaminhamentos que julgasse necessários. Inclusive, porque não, determinando a prisão de envolvidos. Mas, como se sabe, não foi o que aconteceu.
3-) Com efeito, a atitude apenas serviu para acirrar os ânimos - que já estão muito mais exaltados do que o comum, e fomentar um pouco mais o ódio de certa parte da população, ódio que está saindo do controle. Há inúmeros registros em vídeo de pessoas, em vários lugares, sendo atacadas apenas por vestirem uma roupa vermelha! Por exemplo: um torcedor do Internacional, em Porto Alegre, foi ameaçado por estar coma camisa de seu time! Para quem não sabe, isso é uma atitude tipicamente fascista. Portanto, incompatível com uma sociedade democrática que, supostamente, aqueles que estão "lutando contra a corrupção" creem estar protegendo.
4-) Política, em um regime democrático, deve ser uma ação racional. Não é possível fazê-la - independentemente de ideologia, visão de mundo etc. - com base no sentimento de torcida ou no ódio, que, por definição, é irracional. A história ensina que a mistura de política e ódio é explosiva. Via de regra conduz ao...bingo! Ao fascismo. Logo, à derrocada da democracia que, novamente, aqueles que estão "lutando contra a corrupção" creem estar protegendo.
5-) Não tenham ilusão: se Dilma cair, se Lula for preso, mandado para a forca, se o PT for extinto e todos os petistas, esquerdistas etc. – eu incluso – desaparecerem da face da Terra, TODOS os problemas de nossa política e de nossa sociedade que, sim, chocam a todos, continuarão, mas com novos atores. Como sempre digo: o bem e o mal não são monopólio ou privilégio de uma pessoa, um grupo ou um partido.
6-) Nesse sentido, me parece que a única saída real para começarmos a resolver nossos problemas é uma profunda reforma política, possível apenas através de uma Assembleia Constituinte. Nela, todos teríamos espaço e oportunidade para debater, civilizada, racional e democraticamente, os rumos que desejamos para o país. Qualquer coisa fora disso, a começar pela perspectiva de um salvador da Pátria (seja ele Moro, Bolsonaro ou Jesus Cristo), é um engodo, e põe em risco, mais uma vez, a própria democracia.
7-) Isso posto, todo mundo tem direito de reclamar da nomeação de Lula como ministro, achar anti-ético ou o que for. Eu, particularmente, acho que o segundo governo Dilma está sendo terrível (pois está executando um programa diferente daquele pelo qual eu votei), e que uma Katia Abreu da vida estar no ministério é muitíssimo mais grave que a presença de Lula, mas isso é outra história. Quer dizer, isso não está em questão, justamente porque ainda estamos em uma democracia, e todos temos o direito de opinar, expressar nossas opiniões e sermos respeitados.
8-) No entanto, a continuar as coisas como estão, a democracia logo será uma página de nosso passado. E, na sequência, na próxima atitude do governo com a qual não se concorde, na próxima crise econômica, ou na descoberta do próximo corrupto, aqueles que hoje vibram com o estado de exceção que se está criando serão, eles mesmos, vítimas. Porque, ao contrário de hoje, não terão permissão para reclamar.
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