A ida de Marina Silva para o PSB
redesenhou o panorama político para as eleições presidenciais de 2014. Se,
antes, tínhamos três candidaturas da oposição com chances de disputar um
eventual segundo turno com Dilma Rousseff, agora, este número passou para duas
ameaçando se tornar uma única. Expliquemos.
A princípio, disputam contra
Dilma a chapa do PSB (Eduardo Campos e Marina Silva) e mais uma encabeçada pelo
PSDB (Aécio Neves, provavelmente, ou José Serra). Com dois pré-candidatos à
presidência, ao que parece, a definição da cabeça de chapa dos “socialistas”,
que a princípio seria do dono do partido, Eduardo Campos, poderia migrar para
Marina, caso aquele continue estagnado na faixa dos 5% das intenções de voto,
contra os atuais 20% de sua nova correligionária. Seria o movimento natural de
quem deseja ganhar a eleição, ou ao menos ir para o segundo turno, entregar a
cabeça para o candidato mais bem posicionado nas pesquisas de intenção de voto.
Se este movimento vier a se
concretizar, quem ficaria isolada seria a candidatura tucana. A exemplo de
Campos, o PSDB, até agora sem conseguir deslanchar nas pesquisas, mas sem um
apoio de peso como o de Marina, desponta não mais como segunda, mas como
terceira força no cenário eleitoral. Some-se a isso o fato de, em Minas Gerais, terra
de Aécio, os tucanos não contarem com um nome de peso para tentar seguir à
frente do governo do estado, e temos desenhado um cenário em que o
ex-governador mineiro poderia abrir mão de uma candidatura própria, lançar-se
novamente ao governo de Minas e apoiar Marina. Neste caso, se formaria uma
ampla coalizão contra o que Marina Silva acaba de definir, no melhor espírito
da direita latino-americana (quem diria!) como o “chavismo do PT”.
Contudo, a criação desse cenário
depende de algumas variáveis importantes. Em primeiro lugar, que Eduardo Campos
aceite ceder a candidatura à presidência para Marina. Por enquanto, é o oposto
que se aventa mais provável. Mas, como dissemos, a manutenção do nome de Marina
à frente do de Campos nas pesquisas de intenção de voto, pode modificar este
panorama até junho do próximo ano, quando se definem os candidatos.
Além disso, não deverá ser
simples para o PSDB, a essa altura, abrir mão de uma candidatura própria. Isso
marcaria, no limite, o fim do partido. Nesse sentido, a própria permanência de
Serra nos quadros do partido pode indicar que, num caso em que a derrota seja
considerada como praticamente certa, isto é, em que os tucanos não vislumbrem
sequer passar para o segundo turno, Serra poderia ser rifado por Aécio apenas
para manter o PSDB como “opção” (até porque, no fim das contas, o ex-governador de São Paulo tem mais potencial de votos do que Aécio) – ao mesmo tempo em que tenta salvar seu ninho em Minas Gerais.
É verdade que muita água ainda
vai passar por debaixo dessas pontes. Por ora, o certo é que, no xadrez para
2014, a movimentação de Marina, com sua aliança com Campos, a coloca como
principal opositora a Dilma no próximo ano. A pergunta que fica é: oposição à
esquerda ou à direita? Infelizmente, tudo indica que a “sonhática” candidata
parece disposta a abrir mão de seus ideais (aqueles que supostamente norteariam
a criação da natimorta “Rede sustentabilidade”), e mesmo de um programa
alternativo progressista para o Brasil, exclusivamente em nome de “tirar o PT
do poder”. Nesse sentido, depois do apoio aberto da Natura, do Itaú e, mais
veladamente, da família Marinho, ser companheira de partido de Heráclito Fortes
e da família Bornhausen parece ser apenas mais um passo nessa direção. Contudo,
é preciso aguardar. Fica a expectativa, e mesmo a torcida para que, ao
contrário do que se pode depreender de suas últimas declarações, a presença de
Marina Silva nas eleições de 2014, como candidata à presidente ou vice, seja
não apenas parte de um rancoroso (e direitista) plano “anti-PT”, mas que ela
encabece um efetivo projeto capaz de polarizar as discussões políticas do
próximo ano mais à esquerda do que aquelas que tivemos nas eleições de 2010. Neste
caso, ganharíamos todos, inclusive os eleitores de Dilma, que assiste tudo de camarote.