sábado, 5 de outubro de 2013

Começa o xadrez para 2014

A ida de Marina Silva para o PSB redesenhou o panorama político para as eleições presidenciais de 2014. Se, antes, tínhamos três candidaturas da oposição com chances de disputar um eventual segundo turno com Dilma Rousseff, agora, este número passou para duas ameaçando se tornar uma única. Expliquemos.

A princípio, disputam contra Dilma a chapa do PSB (Eduardo Campos e Marina Silva) e mais uma encabeçada pelo PSDB (Aécio Neves, provavelmente, ou José Serra). Com dois pré-candidatos à presidência, ao que parece, a definição da cabeça de chapa dos “socialistas”, que a princípio seria do dono do partido, Eduardo Campos, poderia migrar para Marina, caso aquele continue estagnado na faixa dos 5% das intenções de voto, contra os atuais 20% de sua nova correligionária. Seria o movimento natural de quem deseja ganhar a eleição, ou ao menos ir para o segundo turno, entregar a cabeça para o candidato mais bem posicionado nas pesquisas de intenção de voto.

Se este movimento vier a se concretizar, quem ficaria isolada seria a candidatura tucana. A exemplo de Campos, o PSDB, até agora sem conseguir deslanchar nas pesquisas, mas sem um apoio de peso como o de Marina, desponta não mais como segunda, mas como terceira força no cenário eleitoral. Some-se a isso o fato de, em Minas Gerais, terra de Aécio, os tucanos não contarem com um nome de peso para tentar seguir à frente do governo do estado, e temos desenhado um cenário em que o ex-governador mineiro poderia abrir mão de uma candidatura própria, lançar-se novamente ao governo de Minas e apoiar Marina. Neste caso, se formaria uma ampla coalizão contra o que Marina Silva acaba de definir, no melhor espírito da direita latino-americana (quem diria!) como o “chavismo do PT”.

Contudo, a criação desse cenário depende de algumas variáveis importantes. Em primeiro lugar, que Eduardo Campos aceite ceder a candidatura à presidência para Marina. Por enquanto, é o oposto que se aventa mais provável. Mas, como dissemos, a manutenção do nome de Marina à frente do de Campos nas pesquisas de intenção de voto, pode modificar este panorama até junho do próximo ano, quando se definem os candidatos.

Além disso, não deverá ser simples para o PSDB, a essa altura, abrir mão de uma candidatura própria. Isso marcaria, no limite, o fim do partido. Nesse sentido, a própria permanência de Serra nos quadros do partido pode indicar que, num caso em que a derrota seja considerada como praticamente certa, isto é, em que os tucanos não vislumbrem sequer passar para o segundo turno, Serra poderia ser rifado por Aécio apenas para manter o PSDB como “opção” (até porque, no fim das contas, o ex-governador de São Paulo tem mais potencial de votos do que Aécio) – ao mesmo tempo em que tenta salvar seu ninho em Minas Gerais.


É verdade que muita água ainda vai passar por debaixo dessas pontes. Por ora, o certo é que, no xadrez para 2014, a movimentação de Marina, com sua aliança com Campos, a coloca como principal opositora a Dilma no próximo ano. A pergunta que fica é: oposição à esquerda ou à direita? Infelizmente, tudo indica que a “sonhática” candidata parece disposta a abrir mão de seus ideais (aqueles que supostamente norteariam a criação da natimorta “Rede sustentabilidade”), e mesmo de um programa alternativo progressista para o Brasil, exclusivamente em nome de “tirar o PT do poder”. Nesse sentido, depois do apoio aberto da Natura, do Itaú e, mais veladamente, da família Marinho, ser companheira de partido de Heráclito Fortes e da família Bornhausen parece ser apenas mais um passo nessa direção. Contudo, é preciso aguardar. Fica a expectativa, e mesmo a torcida para que, ao contrário do que se pode depreender de suas últimas declarações, a presença de Marina Silva nas eleições de 2014, como candidata à presidente ou vice, seja não apenas parte de um rancoroso (e direitista) plano “anti-PT”, mas que ela encabece um efetivo projeto capaz de polarizar as discussões políticas do próximo ano mais à esquerda do que aquelas que tivemos nas eleições de 2010. Neste caso, ganharíamos todos, inclusive os eleitores de Dilma, que assiste tudo de camarote.

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