No histórico Oráculo de Delfos, local sagrado para os antigos gregos, homens vinham de toda parte do território helênico para colocar as mais diversas questões aos deuses. No templo, havia uma inscrição, que ficou popularizada na história da filosofia, sobretudo através dos ensinamentos de Sócrates: “conhece-te a ti mesmo”. Tal lema, passível de interpretações diversas, é uma das vertentes do método de reflexão socrático, e até hoje desperta o debate no âmbito filosófico.
Na filosofia contemporânea (com Sartre e Merleau-Ponty, por exemplo), a ideia de uma reflexão interior foi ligada intrinsecamente ao problema do “outro”. Para estes filósofos, só é possível que nos conheçamos verdadeiramente se passarmos pelo crivo do olhar alheio. Quer dizer, apenas pela mediação do julgamento e da opinião de outras pessoas a nosso respeito, é que podemos conhecer-nos de fato, e escapar à tentação de fechar os olhos tanto para nossos defeitos e fraquezas, como para o peso da responsabilidade das escolhas que fazemos.
Uma das coisas mais difíceis de admitirmos, quando tentamos realizar esse auto-exame, é aceitarmos nossos limites. Contudo, e paradoxalmente, só poderemos superá-los a partir do momento em que realmente os conhecermos. Toda essa introdução filosófica teve o intuito de apenas delimitar o horizonte da minha opinião acerca do atual treinador do meu time, o São Paulo. Ricardo Gomes foi um grande zagueiro. Disputou a Copa de 1990 e, por uma fatalidade (uma contusão de última hora), não foi o zagueiro da seleção na campanha vitoriosa do mundial de 1994. É um sujeito educado, trabalhador, bom caráter, fala francês, aprecia vinhos, e, ao que tudo indica, é uma pessoa de bom relacionamento com os outros. Numa palavra: pessoalmente, é um gentleman. Mas Ricardo Gomes, como técnico do SPFC, tem se mostrado um desastre. Fez bons trabalhos em times franceses, de fato, e nos ajudou a fazer um bom campeonato no Brasileiro do ano passado. Todavia, fracassou em inúmeras oportunidades: a mais gritante, na seleção pré-olímpica de 2004, que, sob seu comando, sequer conseguiu vaga para as Olimpíadas (um time que tinha Kaká, Robinho, Diego, Nilmar, dentre outros, todos em ótima fase). O que quero dizer, é que Ricardo Gomes não tem, hoje, competência para dirigir um time como o São Paulo. Talvez seu estilo se case mais com o futebol meio blasé praticado na França. Isso não significa que ele nunca terá condições de ter êxito em um grande clube brasileiro: apenas acho que, hoje, o São Paulo, clube mais vencedor do país, é grande demais para ele.
Digo isso independentemente de resultados futuros. Pode ser que, com uma conjunção astral excepcional, semelhante àquela ocorrida nos jogos contra o Cruzeiro, nas quartas-de-final da Libertadores, o SPFC seja tetracampeão da América. Torço muito por isso. Muito mesmo. Mas, independentemente dessa torcida, acho que Ricardo Gomes deveria assumir (inclusive para seu próprio crescimento), que hoje ele não é técnico para um clube do tamanho do São Paulo. E isso vale para nossa diretoria também, em especial o presidente Juvenal Juvêncio, que apostou num treinador sem grandes resultados e que, infelizmente, “não vingou" no Morumbi.
Mas, como eu disse acima, reconhecer nossos limites é algo extremamente difícil e, muitas vezes, dolorido. É por isso que às vezes precisamos de uma “ajudinha” externa. Se você perguntar nas ruas, para a torcida são-paulina, a esmagadora maioria reprova categoricamente o trabalho do técnico, principalmente depois do péssimo futebol apresentado pós-Copa (que, se não é culpa exclusiva dele – o SPFC não tem lateral direito, e está cheio de jogadores “meia-boca” – passa muito por seu comando e por suas más escolhas). O tópico “Fora Ricardo Gomes” foi um dos mais comentados no twitter mundial durante os dois últimos jogos do SPFC. Acho que isso são amostras de que nosso treinador, e nossa diretoria, deveriam ouvir o que o torcedor, de maneira quase unânime, tem a dizer: O profissional Ricardo Gomes, hoje, não está à altura do clube que dirige.
Para crescer, é preciso se conhecer; e se conhecer, passa por reconhecer os erros e os próprios limites. Depois de 1 ano, a torcida do São Paulo já percebeu que o futebol do time, sob o comando de Gomes, será sempre limitado, como ele. Caro Ricardo: não é possível que tanta gente esteja errada.
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