
Não, não tenho a pretensão de responder essa pergunta. Posso apenas indicar algumas pistas, que a filosofia nos traz. O tempo é um escoamento. Ele flui continuamente, produzindo dentro de si mesmo diferenças. Quer dizer, ele é um movimento incessante de contratação e dilatação de si mesmo; é um juntar-se a si mesmo (a lembrança), um expandir-se a si mesmo e consigo mesmo (a esperança). Esse movimento, sou eu mesmo enquanto ser temporalizante. Não se trata, assim, de pensar o tempo como uma linha de “agoras” sucessivos, de antes e depois. Trata-se, sobretudo, de pensar o tempo como o movimento dos seres para reunirem-se consigo mesmos. O presente não é um instante. Ele é o centro que se abre para o passado, como aquilo-que-não-é-mais e para o futuro, como aquilo-que-ainda-não-é. Somos seres temporais (não estou no tempo, mas sou temporal), nossa existência presente é fuga do nosso passado em direção ao nosso futuro. Para a filosofia, não se trata, portanto, de um tempo homogêneo, mas de apreender a própria dinâmica de temporalização. Por isso, o tempo da existência, nossa duração, não é o tempo dos relógios. Em outras palavras, duas horas do cinema são diferentes das duas horas no serviço. É que, se objetivamente, há a mesma medida de tempo (medida que é sempre convencional), subjetivamente, digamos, nossa apreensão é qualitativamente diferente.

Enfim, depois dessa reflexão meio conturbada, é preciso dizer que há muito que falar sobre o tempo: a relação dele com a existência, com a memória, com a esperança, com a morte. E, provavelmente, voltarei mais vezes ao tema. Nos próximos dias, tratarei dele, em um post sobre algumas observações filosóficas a respeito da morte. Por enquanto, deixo vocês com um poema de minha autoria, que, em alguma medida, fala sobre isso. E, no post abaixo, uma música que também trata dessa questão. Bom fim de semana a todos!
***
Há tempos *
(por Vinícius dos Santos)
Há tempos me indago sobre o tempo,
há tanto tempo que tento que nem me lembro mais
Há tempos tive um mau pressentimento:
o tempo passou como vento e me deixou para trás
Ah, se em algum tempo houvesse um momento
em que o correr do tempo não fosse capaz
Mas, movimento, o tempo não vê meu tormento,
não perde seu tempo nem me deixa em paz.
* Poema originalmente publicado em: Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos - 53. Rio de Janeiro: Câmara Brasileira de Jovens Escritores, 2009.
Olá Vinicius,
ResponderExcluirestou passeando por seus posts sobre filosofia. ; )
Gostei muito da passagem, acima, que fala do tempo como 'um juntar-se a si mesmo (a lembrança), um expandir-se a si mesmo e consigo mesmo (a esperança)'.
Algum livro que vc possa me indicar que trate dessa idéia?
Obrigada. ; )
Chloe
Olá Chloe,
ResponderExcluirOlha, se não me engano, eu trouxe essa passagem a partir de uma ideia da Marilena Chauí, mas não me lembro o livro. Talvez seja aquele "Convite à Filosofia". Essa ideia é basicamente minha interpretação da temporalidade de um ponto de vista fenomenológico com pitada de bergsonismo.
Abraço