segunda-feira, 25 de junho de 2012

Defender a democracia no Paraguai é defender a democracia em toda a América Latina


O golpe contra o presidente paraguaio Fernando Lugo, destituído de seu cargo num processo de impeachment levado a cabo pelo Congresso paraguaio em tempo recorde, com duração de 24 horas, ligou o sinal de alerta na América Latina. Não apenas porque se trata de uma nova modalidade de golpe, como sugeriu Tarso Genro em recente artigo (leia aqui), no qual se tenta, ao contrário do modelo clássico, dar uma roupagem “democrática” à deposição (Honduras, em 2009, foi o primeiro ensaio dessa nova prática golpista). Mas principalmente porque a democracia é um valor altamente efêmero no contexto latino-americano, quase sempre dependente de alianças ideologicamente heterogêneas e acordos passíveis de serem quebrados a qualquer momento.

Como se sabe, a democracia é condição indispensável para o prosseguimento da construção de uma alternativa pós-neoliberal, que se desenha há mais de uma década no nosso continente – e cujo ciclo histórico ainda não se esgotou.Por isso, todo cuidado com a direita, com os setores conservadores, e com o imperialismo norte-americano, isto é, com todos aqueles que desejam reverter esse processo transformador em nome de seus retrógrados interesses, é pouco. Mas, em todo o continente, tais setores podem ganhar fôlego caso o golpe paraguaio triunfe definitivamente. A Bolívia começa a sentir os primeiros impactos, com a infiltração de elementos desestabilizadores do governo na greve de policiais que ocorre no país nessa semana. No Brasil, José Carlos Aleluia, um dos nomes mais importantes do DEM, postou em seu perfil do Twitter um sugestivo “se a moda pega”. Aliás, sempre é bom lembrar que no Brasil, um país cuja democracia política é comparativamente mais sólida, tentou-se algo semelhante em 2005, quando o escândalo do chamado “mensalão” serviria de pretexto para uma possível destituição do então presidente Lula. Lula não caiu por uma soma de fatores: as alianças que havia conseguido estabelecer com setores de centro, para além daquelas com a esquerda e a centro-esquerda; ter atrás de si um partido forte e socialmente arraigado; e contar com o apoio de uma base social mais organizada. Esses fatores lhe permitiram enfrentar o processo sem prejuízos diretos para si, embora nomes importantes do governo, como o ex-ministro José Dirceu, tenham sido literalmente sacrificados. Antes de Lula, em 2002, o presidente venezuelano Hugo Chávez sofreu tentativa semelhante de impeachment, que se tivesse sido definitivamente exitosa (Chávez ficou apenas três dias longe do poder), provavelmente teria impedido o ciclo virtuoso que começaria poucos meses depois com a eleição de Lula. Lugo, com uma base muito mais frágil e praticamente isolado, não teve a mesma sorte.

Por isso, é preciso dar todo apoio às decisões da Unasul (União das Nações da América do Sul) e do Mercosul (Mercado Comum do Cone Sul) de suspender o Paraguai dessas organizações, bem como, principalmente, de não reconhecer o novo governo de Federico Franco. Além, claro, de reforçar a resistência do povo paraguaio, que está ao lado de Lugo. Afinal, a defesa da democracia no Paraguai é a defesa da democracia na América Latina, é a defesa do processo transformador que o continente vive desde os anos 2000. 

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Rio + 20, meio ambiente e capitalismo


Em documento publicado no último mês, o Diretório Nacional do PT publicava um texto que, a meu ver, resume bem a problemática que estava colocada nesta Conferência Rio + 20. Transcrevo dois trechos a seguir:

 “Do ponto de vista ambiental, a crise internacional só está demonstrando com mais clareza o que já sabíamos e dizíamos há muito tempo: um modelo de desenvolvimento apoiado na ideia de que o mercado é capaz de organizar a vida social, que tem o lucro como principio básico e fundamental, além de ser um modelo excludente, que acentua a desigualdade social, é certamente um modelo em que é impossível pensar numa sustentabilidade ambiental. Esta é uma das ideias centrais que vamos defender, como Partido, na Rio+20: sustentabilidade ambiental não rima com capitalismo, especialmente com capitalismo neoliberal”.

Nesse sentido, quatro desafios eram elencados:

“O primeiro tem um sentido mais estratégico, e refere-se à defesa de um modelo alternativo de desenvolvimento; o segundo tem um sentido teórico-conceitual, considerando que o termo “desenvolvimento sustentável” se universalizou, mas há uma disputa em torno de seus significados e conteúdos; o terceiro é mais institucional, e refere-se aos compromissos e metas que os governos e organismos internacionais devem assumir; e por fim o quarto e talvez o principal: o desafio político, ou seja, o da construção da força necessária para implementar e aprofundar esse modelo alternativo que preconizamos”.

Deste ponto de vista, e como era de se esperar, o rascunho do documento final da Conferência Rio + 20, que a partir de hoje será submetido aos chefes de Estado e de governo que vierem ao Brasil, ficará aquém do desejado. É fato que, como disse a presidenta Dilma nesta terça-feira, “há a necessidade de se fazer um balanço entre os países”, que o rascunho aprovado sob a capitania do Brasil “é o documento possível entre diferentes países e diferentes visões do processo relativo à questão ambiental”. Mas, não dá para negar, ele não responderá de maneira satisfatória aos desafios que estão postos para a humanidade nestas primeiras décadas do século XXI.

Embora possa haver alguma modificação na letra final, as notícias dão conta de que foram excluídos do texto acordado pelos representantes dos países participantes, por exemplo, a criação de um fundo de fomento à sustentabilidade, sugerido pelo G-77 (grupo de países em desenvolvimento, como Brasil e China), claramente por oposição dos países ricos – curiosamente, os que mais poluem –, e propostas mais específicas de metas de sustentabilidade – novamente, por oposição central daqueles mesmos países. No plano social, o parágrafo que mencionava o direito das mulheres sobre seu processo reprodutivo foi retirado por pressão do Vaticano. Mas, para nosso azar, o eixo falacioso da “economia verde” - que, no fundo, apenas pretende manter o modelo  predatório capitalista tal como ele é hoje - prosseguiu.

Mas, então, a Conferência foi um completo fracasso (como também se disse há 20 anos da Eco-92)? Não acho. Primeiro, porque, na pior das hipóteses, um encontro dessa envergadura, que mobiliza desde militantes e ativistas das mais diversas áreas, até os comandantes de grande parte das nações mundiais, é sempre proveitoso. Pelo que pude acompanhar à distância, houve bons debates, boas propostas no âmbito da chamada “Cúpula dos Povos”, que reúne a chamada “sociedade civil”, além de representantes de movimentos sociais, políticos etc. Uma interessante troca de experiências, individuais e coletivas, um acúmulo de forças que renova a esperança de que “o mundo que queremos”, como propõe o lema da Conferência, é um mundo bem diferente do que aquele que está aí. Nesse sentido, vale destacar por exemplo que, apesar dos pesares, o documento final reafirmará positivamente a indissociável díade entre desenvolvimento social e sustentabilidade ambiental – o que me parece um ponto de partida essencial em qualquer discussão séria sobre nosso futuro.

O que emperra esse tipo de negociação, de fato, é contemplar os interesses de alguns países, sobretudo aqueles que são os maiores causadores do drama sócio-ambiental que vivemos, mas cujo poder, infelizmente, nos impede de simplesmente ignorá-los. Isso ficou claro, desde o início, com o esvaziamento provocado pela recusa de líderes como Barack Obama e Angela Merkel em participar da Conferência. Convenhamos, uma reunião de interesse global sem que os EUA e a Alemanha assumam sua enorme responsabilidade diante dos problemas mundiais perde muito de seu poder de fogo. Com esse gesto de ambos, ficou claro o nível do enfrentamento que se daria nessa Conferência.

Enfim, agora é preciso examinar a versão final do documento, mas principalmente, acompanhar de perto os desenlaces desses dias de intensa discussão sobre nossos principais problemas. E, a partir daí, definir os próximos passos em direção a um novo princípio civilizatório, diferente do paradigma capitalista liberal que nos conduziu a essa situação desastrosa.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Copa do Brasil: a hora da verdade para o SPFC


Começam logo mais as semifinais da Copa do Brasil. Hoje, o primeiro confronto entre Palmeiras e Grêmio e amanhã entre São Paulo e Coritiba. Para o tricolor paulista é a hora da verdade. Não apenas por estarmos numa fase aguda da competição, mas principalmente porque a Copa do Brasil representa hoje, diante do futebol que o time apresentou no primeiro semestre e das perspectivas para o próximo, a única chance de conseguirmos chegar à Libertadores 2013 ou, mais ainda, de quebrar o incômodo jejum de quase 4 anos sem levantar um caneco. Por isso, Luís Fabiano, Lucas e cia. jogam a partir de amanhã, de algum modo (isto é, se nada for feito para mudar o elenco, ampliá-lo etc.) , a sorte do SPFC neste ano e no próximo. É esperar e confiar. E hoje, para aquecer, ficar de olho num possível rival da tão aguardada final.

Vamos São Paulo!

domingo, 3 de junho de 2012

Legião Urbana - Tempo Perdido

Vivendo uma semana de homenagens aos 30 anos da Legião Urbana, não poderia deixar de dar minha contribuição. Digam o que disserem, a Legião foi, ou melhor, é uma das maiores bandas do rock nacional - se não for a maior. Para minha geração, Renato Russo é um ícone, e suas letras ecoam até os dias de hoje, com uma atualidade impressionante (infelizmente, às vezes). E essa, na minha opinião, é uma de suas melhores composições, aqui em ótima versão ao vivo, em 1994.