sexta-feira, 24 de maio de 2013

O Poderoso Chefão - parte II (The Godfather - part II)

Poucas sequências filme - talvez nenhuma outra - foram mais bem sucedidas do que a segunda parte de O poderoso chefão. A ponto de ser difícil, para muitos fãs da trilogia, cravar qual dos dois primeiros filmes é melhor. Eu, por exemplo, prefiro o primeiro, por conta da atuação esplendorosa de Marlon Brando ao lado de Al Pacino. Contudo, o show deste último, na segunda parte, somada à também brilhante atuação de Robert de Niro, não ficam muito atrás. Além disso, as histórias paralelas tramadas na segunda parte da saga (de um lado, a história da imigração italiana para os EUA, representada pela história do jovem Vito Corleone; de outro, o desenvolvimento dos negócios da família Corleone, com destaque para a passagem pela Havana balançada pela Revolução de 1959), são de tirar o fôlego. Assim, decidir qual dos filmes é melhor é pura questão de gosto mesmo. A única certeza é que este é um daqueles filmes que precisam ser vistos.

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O poderoso chefão II (The Godfather - part II)
Ano: 1974 
Direção: Francis Ford Coppola 
Gênero: Crime / drama
Origem: Estados Unidos
Duração: 200 min. 
Elenco: Al Pacino, Robert de Niro, Diane Keaton.
Sinopse: Na segunda parte da saga da família Corleone são contadas duas histórias paralelas. A primeira é propriamente a continuação de O Poderoso Chefão. Agora, Michael está mais maduro e ousado no controle da família, e os Corleones tentam expandir seu império atuando na costa leste dos Estados Unidos. Paralelamente, o filme apresenta toda a infância e a mocidade de Vito Andolini, que mais tarde seria conhecido como Don Vito Corleone. Após a máfia local matar sua família, o jovem Vito (Robert De Niro) foge da sua cidade na Sicília e vai para a América. Já adulto em Little Italy, Vito luta para ganhar a vida (legal ou ilegalmente) para manter sua esposa e filhos. Ele mata Black Hand Fanucci (Gastone Moschin), que exigia dos comerciantes uma parte dos seus ganhos. Com a morte de Fanucci o poderio de Vito cresce muito, mas sua família (passado e presente) é o que mais importa para ele. Do outro lado, temos o legado de família que vai até os enormes negócios que nos anos 50 são controlados pelo caçula, Michael Corleone (Al Pacino). Agora, baseado em Lago Tahoe, Michael planeja fazer (por qualquer meio necessário) incursões em Las Vegas e Havana, instalando negócios ligados ao lazer, mas descobre que aliados como Hyman Roth (Lee Strasberg) estão tentando matá-lo. Crescentemente paranóico, Michael também descobre que sua ambição acabou com seu casamento com Kay (Diane Keaton) e até mesmo seu irmão Fredo (John Cazale) o traiu. Escapando de uma acusação federal, Michael concentra sua atenção para lidar com os seus inimigos.





quarta-feira, 15 de maio de 2013

Indiferença, solidão e vida serial


Uma das principais novidades trazidas da modernidade foi a instituição da noção de indivíduo. Em oposição às concepções medievais de família e consanguinidade, o surgimento desse conceito representou uma conquista civilizatória importante, na medida em que garantia, ao menos formalmente, que cada pessoa pudesse gozar igualmente de liberdade e direitos independentemente do meio em que nasceu. No entanto, o desenvolvimento capitalista, fortemente apoiado na consigna da “livre iniciativa individual”, desfigurou essa noção. Por conta da própria dinâmica da sociedade fundada sobre as leis do mercado, e baseada numa ideologia que prega a dissolução de qualquer traço de comunidade ou fraternidade em nome da competição agressiva, da exaltação do eu e da satisfação imediata, o conceito de indivíduo tornou-se o suporte do que comumente se define por individualismo: separados dos outros por nossos próprios interesses – entendidos e vividos como absolutos –, comungamos mais e mais daquela máxima tão conhecida do “cada um por si”.

Marx vislumbrava este quadro negativo já no século XIX: o homem no capitalismo, alienado do mundo que ele produz cotidianamente por seu trabalho, terminava por estranhar-se a si mesmo e aos outros, a tal ponto de se tornar incapaz de se reconhecer como membro de um conjunto mais amplo, a que chamamos humanidade. De lá para cá, as coisas, neste ponto, pioraram sensivelmente. Quem, por exemplo, nunca ouviu ou soltou um: “ninguém tá nem aí com ninguém”? Com efeito, ninguém pode negar que, globalmente, vivemos hoje uma era na qual, em consonância com o predomínio dos ideários neoliberais, fortemente anti-comunitários, o individualismo tem se acentuado de modo exorbitante (vale notar, a ponto de colocar em xeque até mesmo a percepção que temos de nós mesmos como indivíduos dotados de uma história única e singular, com um passado e de uma perspectiva de futuro). Com isso, o antagonismo ou a indiferença em relação a outrem se tornaram a via de regra da forma como (não) percebemos e (não) lidamos com os outros.

Sartre, em sua Crítica da razão dialética, denominava esse modo de vida, em que nos isolamos cada vez mais, mesmo em meio à multidão, de serial, e o definia como um dos produtos mais genuínos das grandes cidades surgidas com o advento capitalista e de sua dinâmica intrinsecamente alienante. O conceito se explica: serialidade, diz Sartre, porque vemos uns aos outros como números de uma série, isto é, como num cenário em que a mudança de qualquer elemento e sua substituição por outro em nada alteram o quadro geral. Podemos exemplificar do seguinte modo: tanto faz, para mim, se a pessoa que está ao meu lado no ônibus seja uma jovem, estudante, preocupada com suas provas, ou que a pessoa na minha frente na fila do banco seja um senhor de meia idade, aparentemente com dificuldades para pagar suas contas. Afinal de contas, nada mudaria se outros ocupassem aqueles lugares, tendo outras histórias, outros interesses, outros motivos para estarem ali. Não tenho nenhum vínculo com eles, exceto pelo fato – que foge ao meu alcance – de ocuparmos um mesmo “campo material” num determinado momento, isto é, pegarmos o mesmo ônibus ou estarmos na mesma agência bancária. Para mim, cada um deles é apenas “um outro qualquer”, como eu também sou para eles. Formamos, deste modo, e cada vez mais, uma pluralidade de solidões, alienados que estamos de nosso ser em sociedade, e se permanecemos lado a lado, isto não se dá a partir de qualquer vínculo de solidariedade, mas por simples justaposição, acaso. Paradoxalmente, portanto, não nos reconhecemos plenamente como indivíduos. É, na verdade, a indiferença a tônica de nossa (falta de) percepção do outro, e só o notamos, de fato, quando ele interfere diretamente em nossa vida, nossos interesses etc. – por exemplo, se o atendimento da pessoa à minha frente, no banco, atrasa o meu.

Sartre ainda chamava a atenção para o fato de que se, por um lado, essa solidão em meio à multidão à qual estamos encarcerados em nossa vida cotidiana é fruto da dinâmica característica de nossa sociedade, por outro, trata-se de algo com o qual também acabamos, consciente ou inconscientemente, respaldando. O filósofo dava o exemplo de quando leio um jornal aguardando o ônibus, me valendo, assim, de um coletivo nacional (no limite, da vida de todos os demais) para me isolar das cinco ou seis pessoas que estão na fila comigo. Atualmente, poderíamos facilmente acrescentar a este exemplo aquele dos Ipod, Smatrphones, MP3 etc. Afinal, não utilizamos frequentemente essas tecnologias em locais públicos justamente para nos afastar dos outros, para evitar qualquer contato ou conversa? Enfim, como Sartre explica, nestes casos, o “projeto de solidão” de cada um faz com que a possibilidade de uma reciprocidade exista (estamos no mesmo ônibus ou aguardamos igualmente um atendimento bancário), mas seja negada ao mesmo tempo (nos isolamos abrindo um jornal, ouvindo música, navegando na internet, ou simplesmente ignorando a presença alheia, como se estivéssemos diante de um objeto qualquer).

Temos dois graves problemas diante desta conjuntura: em primeiro lugar, trata-se de uma situação extremamente prejudicial para nossa vida, pois somos seres sociais, e necessitamos indispensavelmente uns dos outros para sobreviver; precisamos da comunidade, do cuidado e da solidariedade negada cotidianamente por nosso modo de vida. Daí, provavelmente, nos sentirmos cada vez mais “vazios”, “deprimidos” etc., mesmo na companhia de outros. Em segundo lugar, esse cenário de isolamento e indiferença também é danoso justamente porque dificulta, dissolve ou mesmo bloqueia qualquer projeto – forçosamente coletivo e de longo prazo – de construção de outra forma de convívio social. Isso ajuda a explicar, por exemplo, as dificuldades de adesão a qualquer ação política séria que vise superar esse modo de vida, na medida em que ela exige, em sua própria essência, uma tomada de consciência de nossa situação e, por conseguinte, a negação prática da “serialidade” – isto é, da vida cotidiana na qual estamos mergulhados, com suas urgências e preocupações, mas também com suas benesses e prazeres momentâneos –, em nome de um engajamento voltado quase que exclusivamente para o futuro, ou seja, orientado para além da perspectiva individualista da ideologia dominante (portanto, da qual todos, em alguma medida, compartilhamos), centrada unicamente na imediatez do aqui e agora.

Resta, assim, uma pendência: é possível sair desse cenário? Em caso afirmativo, como, então, equacionar o paradoxo de que a superação dessa situação extremamente nociva para todos dependa de um gesto frequentemente tolhido por esta mesma situação? Bastaria a força da necessidade, por exemplo, para reverter uma ideologia que desencoraja a solidariedade e o coletivo e aplaude a busca incessante pela satisfação instantânea e egoísta como modo de vida? Ou seria preciso reconhecer que estamos fadados a mergulhar cada vez mais em nossas solidões particulares, encerrados em nossas tarefas e interesses imediatos, abrindo mão de toda forma de esperança e utopia? Não acredito nesta última alternativa, mas é fácil perceber que não há respostas simples às demais questões. Em outra oportunidade, porém, pretendo voltar a refletir sobre elas com vocês.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Reflexão mais do que necessária

Depois de uma semana desastrosa, que começou com a eliminação do Paulista, nos pênaltis, para o Corinthians, e terminou com o vexame diante do Atlético Mineiro, que merecidamente nos desclassificou da Libertadores, me parece a hora de uma reflexão profunda nos lados do tricolor. O elenco não é pífio, mas é inegável que precisa de mais peças de qualidade. Diria que, no mínimo, dois laterais, um zagueiro, um volante e um atacante que possam chegar para serem titulares. Nada de experiências. Do contrário, o Brasileirão será longo e sem perspectivas de sucesso. 

Ney Franco, com sua inexplicável fixação pela falta de futebol de Douglas, devem ficar, segundo o diretor de futebol que só entende de corridas de carro, Adalberto Batista. De fato, não sei, realmente, se é o caso de demiti-lo ou mantê-lo, tendo em vista as opções disponíveis no mercado. Contudo, permanecendo, o treinador precisa entender o tamanho do clube que dirige, parar com suas improvisações amadoras (como escalar Douglas de atacante num jogo decisivo e em que a equipe precisava de gols) e tentar dar coesão a seu time, que ontem, por exemplo, não apresentou sequer uma jogada trabalhada. 

Por fim, porém mais importante, a diretoria. Aquela que arrota aos quatro cantos a “soberania” do tricolor, deveria se atentar aos péssimos números* alcançados pelo clube nos últimos anos: 19 derrotas em 20 mata-mata disputados; quatro títulos em 26 disputados; e alguns vexames que me parece desnecessário lembrar. Além disso, uma série infindável de contratações desastrosas, escolha de técnicos muito aquém do tamanho do São Paulo, desmantelamento de uma comissão técnica reconhecidamente competente e vencedora e insistência num discurso desagregador e arrogante. A primeira responsável, portanto, pelas férias forçadas do São Paulo neste momento, pela coleção de reveses em campo nos últimos anos e pela falta de perspectiva no futuro imediato, é a diretoria. Mais particularmente, seu presidente, que desde o golpe da reeleição, em 2010/2011, e não obstante seu inegável carisma, tem acumulado fracassos em cima de fracassos.

Nesse sentido, é curioso (e triste) constatar que, em 2010, ainda antes de concretização do golpe que deu o terceiro mandato a Juvenal Juvêncio, eu dizia o seguinte, numa postagem aqui no blog: “O problema é que JJ parou na conquista de 2008. Não viu (ou não quis ver) que a roda da história continuou girando. Que os outros clubes se renovaram. E que não bastaria apenas autoproclamar-se ‘diferenciado’ para que as coisas acontecessem. O São Paulo hoje (isto é, sua diretoria, a começar pelo coronel Juvenal),  parece aquele aristocrata decadente que, reivindicando um passado de glórias, continua agindo sob a chancela de sua pretensa e intacta superioridade. Só não percebe que o faz da mesma sarjeta em que foi jogado junto com todos os outros. Alguns clubes entenderam a situação e começaram a agir. O São Paulo se acomodou. Por isso, é preciso renovar. É preciso respirar novos ares. Sob pena de acordar tarde demais – e de maneira muito trágica – do sonho de que o tempo parou naquele gol de Borges contra o Goiás.”

Recuperando essas linhas, percebo que, fora o título da Sul-americana no ano passado – único conquistado desde então – nada mudou. Ou melhor, mudou sim: a concorrência se qualificou. E nós seguimos estacionados. Diante disso, só resta perguntar: o que mais será preciso acontecer para que Juju e seus asseclas se deem conta de que ficaram para trás e estão afundando o São Paulo? Que precisam deixar o futebol nas mãos de um profissional que entenda do assunto?

*Os números foram extraídos do blog do Marcello Lima.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

PT lança campanha pela reforma polítca


Em diversas ocasiões, manifestei aqui minha opinião de que uma reforma política é um passo fundamental para conseguirmos avançar, para além do que conseguimos nos últimos 10 anos, nas reformas estruturais que se fazem tão necessárias em nosso país. Logo, foi com muita satisfação que soube da mais do que oportuna campanha, encabeçada pelo Partido dos Trabalhadores, de propor um projeto de lei de iniciativa popular sobre o tema, a Assine com o PT. Tal iniciativa permite superar a resistência da maioria dos parlamentares e dos partidos (que, no último mês, enterraram mais uma proposta de reforma "por dentro" do Congresso) e abrir uma ampla discussão sobre os rumos de nosso país, que passam diretamente pela esfera – hoje inegavelmente fragilizada – da política.

Os eixos da reforma proposta pelo PT são aqueles que defendo há tempos aqui, orientados pela perspectiva de radicalização democrática:

- Financiamento público exclusivo de campanhas políticas: para inibir a corrupção, a força do poder econômico e baratear os processos eleitorais.
- Voto em lista preordenada para os parlamentos: para que sejam valorizados os compromissos com os programas partidários.
- Aumento compulsório da participação feminina nas candidaturas: o PT já aprovou a paridade entre homens e mulheres em todos seus espaços, queremos que este seja também uma prática na política do nosso país.
- Convocação de Assembleia Constituinte exclusiva sobre Reforma Política: para que se aprofunde a democracia brasileira através de um amplo debate com participação efetiva da sociedade.

Para que seja reconhecido um projeto de iniciativa popular, é necessário coletar, no mínimo, 1,4 milhões de assinaturas. O objetivo do PT é atingir 1,5 milhões de assinaturas. Por isso, chamo todos os leitores e leitores do blog a assinarem em favor desse projeto. O link do formulário e maiores informações podem ser encontrados aqui.