terça-feira, 3 de maio de 2011

Quando os valores são relativizados

A morte de Osama Bin Laden ainda está envolta em mistérios. Possivelmente, nos próximos dias, ou meses, algumas questões serão respondidas – mas não completamente, como é de praxe. Do que se passou até agora, o que mais chamou minha atenção foi a celebração dos populares pela morte do terrorista saudita, na porta da Casa Branca, e em outros pontos dos EUA, que começou antes mesmo do anúncio oficial.

Os Estados Unidos são um país cristão. Talvez inspirados numa má interpretação daquela passagem do Gênesis, que diz que Deus criou o homem à sua imagem e semelhança, os ianques – que se acham o “povo escolhido” por Deus – pretendem moldar o mundo à sua feição. Mesmo que, para isso, seja preciso relativizar os valores que eles mesmos dizem ser universais e que, por isso, pretendem impor ao mundo.

A celebração (ainda mais pública) da morte de alguém não me parece uma prerrogativa do cristianismo. Na verdade, de nenhuma pessoa sensata, independentemente de sua orientação religiosa, e de quem é ou do que fez a vítima. Pior ainda, é quando a morte do “culpado” vem sem qualquer tipo de julgamento. Ora, uma condenação desse tipo fere, vejam só, um dos pilares da...democracia! Sim, aquela mesma que os EUA dizem querer levar, à força, para o resto do mundo – mas que são incapazes de aplicá-la para si próprios. Sim, pois vale lembrar: Obama deixou claro que o objetivo era matar, e não prender, julgar e condenar o líder da Al-Qaeda. Democrático, não?

A festa na porta da Casa Branca, no domingo à noite, demonstra que democracia, o estado de Direito, e até os valores cristãos mais básicos, na ótica americana, são bons apenas quando servem aos seus interesses. Com efeito, o que se vê, desde domingo, é a confusão entre a realidade – onde qualquer pessoa acusada de um crime tem direito a um julgamento público e a defesa – e um filme de Hollywood, no qual invariavelmente o mocinho deve matar o bandido, para regozijo dos espectadores.

Antes que alguém me acuse, não, não quero defender Bin Laden. Mas, nunca é demais lembrar, são os EUA quem criaram e financiaram seu ex-inimigo público número um, quando isso lhes convinha *. Até hoje, também, as ligações de personagens importantes da política americana, por exemplo, da família Bush, com a família Bin Laden são nebulosas **. Será que o presidente americano tinha medo do que Osama poderia dizer? A quem não interessava que Bin Laden fosse capturado vivo? Nunca é demais perguntar... Além disso, independente desses fatores obscuros, é fato que sair por aí matando pessoas supostamente culpadas, sem maiores explicações, não é o caminho para resolver os problemas do mundo – ainda mais por parte de quem se considera o maior modelo de democracia do planeta. Menos ainda, celebrar essa morte, como se a vida fosse um filme de guerra do bem contra o mal.

* "Como os EUA criaram Bin Laden?" Ótimo artigo aqui (fonte: blog do Miro)
** "As ligações dos Bush com os Bin Laden": leia aqui (fonte: blog do Miro)


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