terça-feira, 5 de maio de 2015

O velho Leon e Natália em Coyoacán

Acho O velho Leon e Natália em Coyoacán um dos melhores poemas de Paulo Leminski. Primeiro, por propor uma trama romântica a partir de dois personagens que admiro, Leon Trotsky e sua esposa, Natalia Sedova. Mas, além disso, e mais fundamentalmente, porque ele sempre me remete àqueles dias extraordinários, que pela dificuldade que nos impuseram, ou pela mudança de destinos que nos provocam, se tornam únicos, singulares em nossas vidas, e cuja memória, embora dolorosa, sempre nos acompanhará. “Nunca mais vai haver um dia como em Petrogrado aquele dia”. Quem nunca teve seu “dia em Petrogrado” para dizer: que um dia como esse nunca mais se repita?

No entanto, também em muitos dias positivamente extraordinários, nos quais tive alguma experiência que se tornaram únicas, irrepetíveis (as “primeiras vezes”, por exemplo) os versos da última estrofe curiosamente me vêm à mente. Neste caso, não como desejo, como é o tom do poema, mas com certa dose de lamento: nunca mais vai haver um dia como aquele, pois as circunstâncias são outras, e eu também já sou outro.

Enfim, independete da interpretação que se faça, o fato é que se trata de uma bela composição, de um de nossos melhores poetas do século XX.

O velho Leon e Natália em Coyoacán
(Paulo Lemniski)

desta vez não vai ter neve como em petrogrado aquele dia
o céu vai estar limpo e o sol brilhando
você dormindo e eu sonhando

nem casacos nem cossacos como em petrogrado aquele dia
apenas você nua e eu como nasci
eu dormindo e você sonhando

não vai mais ter multidões gritando como em petrogrado aquele dia
silêncio nós dois murmúrios azuis
eu e você dormindo e sonhando

nunca mais vai ter um dia como em petrogrado aquele dia
nada como um dia indo atrás de outro vindo
você e eu sonhando e dormindo

2 comentários:

  1. Virou canção - https://soundcloud.com/invento-julianacortes/o-velho-leon-e-nat-lia-em

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