quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Tempo para trabalhar

Por falta de tempo devido aos compromissos profissionais e pela precipitação de acontecimentos no mundo político, nada havia escrito no blog a respeito de futebol e do São Paulo FC desde a saída de Muricy Ramalho, há quase três meses. Quem me acompanha nas redes sociais, porém, em especial no Twitter, sabe do apreço que tive pela contratação do técnico Juan Carlos Osorio e que nutro por seu trabalho até aqui. Agora, minimamente superada a turbulência das últimas semanas (pelo menos, assim o espero), que certamente se agravaria em caso de eliminação para o Ceará na Copa do Brasil, me parece oportuno externar uma posição mais bem embasada.

Entendo que a vinda de Osorio é o maior acerto – talvez, o único – dessa gestão desastrada, para dizer o mínimo, de Carlos Miguel Aidar. Contudo, me parece desnecessário lembrar a canalhice (para mim, é este o termo apropriado) que fizeram com o trinador colombiano, ao omitirem, no momento em que o procuraram, a situação financeira dramática que vive o clube. Com efeito, o desmanche promovido por Aidar nas últimas semanas compromete sobremaneira o trabalho de Osorio (e mesmo o próprio ânimo do técnico em permanecer no futebol brasileiro). Por conseguinte, prejudica uma avaliação mais precisa sobre ele.

Esse quadro, no entanto, só vem corroborar algo que, mesmo se não houvesse o desmanche, me parece a postura correta que a diretoria deveria seguir: dar tempo para Osorio trabalhar. Quem teve a oportunidade de morar em outro país sabe a demora que pode ocorrer no entendimento e na adaptação aos costumes, ao dia a dia do novo lugar. Para quem, como o colombiano, chega numa posição de comando, e se depara com a situação desconhecida descrita acima, essa dificuldade se agrava.

Por isso, a meu ver, o melhor a fazer, neste momento, é o seguinte: levar 2015 como der (imagino uma classificação de meio de tabela no Brasileiro e uma eliminação nas quartas ou, no mais tardar, nas semifinais da Copa do Brasil) e dar carta branca para Osorio pensar um time para 2016. Estabelecer um projeto de médio prazo, sem pressão para resultados imediatos. Ora, por quê? É verdade que Osorio não é gênio, o “Guardiola sulamericano”, ou algo assim. E, sim, ele vai errar ainda, e muito, em escalações, em acreditar em jogadores que nós, torcedores, sabemos que não têm condições de oferecer nada, em improvisos... Além disso, também terá de aguentar as trapalhadas de Aidar e sua trupe. Entretanto, Osorio é inegavelmente um trabalhador, estudioso, uma mente arejada num futebol (e num clube) que agoniza. Alguém que propõe um futebol para além da retranca e do contra-ataque, que quer fazer o SPFC jogar como o grande clube que é. E, acima de tudo, o treinador colombiano é uma reserva de bom caráter e hombridade num ambiente visivelmente putrefato.

Assim, se há um pilar que pode servir para reestruturar minimamente o há anos cambaleante São Paulo, ao menos dentro de campo, este é justamente Osorio. Mas, trata-se de um trabalho que leva tempo, ainda mais sem dinheiro para grandes contratações. Logo, de nada adianta cobrá-lo apenas pelo próximo jogo. Há de se enxergar alguns passos adiante. E, de mais a mais, nunca é demais lembrar: construir é sempre mais difícil do que destruir.

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