sexta-feira, 4 de março de 2016

Justiça ou estado midiático de exceção?

Esse post é uma espécie de colagem de postagens que escrevi em minha página pessoal do Facebook e que, pela gravidade da situação, decidi registrar também aqui no blog.

Pode-se detestar Lula pelo motivo que for. Mas, em uma democracia, há um princípio elementar de que todos devem ser igualmente tratados perante a lei. Não é o que está ocorrendo. Há uma caçada inteiramente voltada a uma pessoa, um grupo, um partido. Um estado de exceção patrocinado pela grande mídia disfarçado de republicanismo. Um exemplo dessa parcialidade? Eis como Sandra Annenberg deu início ao telejornal que ela comanda na Rede Globo: “Boa tarde. Essa é uma edição especial do Jornal Hoje”. Precisa dizer mais alguma coisa?

Por isso, quem não gosta do Lula ou do PT pode até celebrar hoje. Mas, deve ter em mente que, amanhã, esse estado de exceção pode se voltar contra qualquer outra pessoa – inclusive de quem hoje bate palmas –, a critério de quem estiver no poder.

E, antes que venham com pedras, e para deixar claro: se há indícios de enriquecimento ilícito, de crimes praticados etc., que se investiguem e punam Lula, Dilma e o PT. Ótimo. É para isso que a Polícia Federal recebeu um aporte inédito de dinheiro e estrutura nos últimos 12 anos.

Mas, que se faça o mesmo, por exemplo, quando delatores citam propinas para figuras de outros partidos - como já fizeram com Aécio Neves, para mencionar apenas um. Ou que se conduza coercitivamente figuras que claramente usam seu poder para atrapalhar as investigações, como Eduardo Cunha.

Se há problema em empreiteiras terem doado dinheiro para o Instituto Lula, ok. Elas doaram milhares de reais para o Instituto FHC também. Por que apenas um é alvo de investigação e de condução coercitiva?

Há uma série de indícios de corrupção na Petrobrás desde muito antes de o PT sonhar em chegar ao poder. Por que o foco da Lava Jato é exclusivo a partir de 2003?

Portanto: o que (me) incomoda não é a investigação a Lula ou ao PT. Nem mesmo, se for o caso, que venham a ser punidos de forma severa, caso se comprovem os crimes de que são acusados. O que me incomoda mesmo – e isso é a base de um estado de exceção, portanto, de afronta à democracia – é a tentativa de se criar uma narrativa de demonização de apenas um dos lados. Ora, qualquer pessoa com um mínimo de bom senso e conhecimento histórico e político – ou mesmo, qualquer um que tenha acesso ao Google e disposição para uma pesquisa rápida – sabe que as coisas são muito diferentes do que essa farsa burlesca tenta vender.

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