sábado, 29 de outubro de 2016

Desalento

Depois de um período de inatividade, provocado pela minha mudança para a Bahia, é hora de retomar a atividade no blog. Durante este quase um mês em que deixei de publicar, como se sabe, muita coisa ocorreu em nosso país. Desnecessário enumerá-las aqui. O que vale registrar é que, em sua maioria, as notícias são negativas. E, confesso, embora minha vida pessoal/profissional esteja caminhando bem (em que pese a ausência momentânea de minha esposa, mas isso é outra história) escrevo este texto tomado de certo desânimo.

Sim, recentemente houve a (tardia) prisão de Eduardo Cunha. Sim, o movimento corrente das escolas ocupadas é uma bafejada de ar fresco nas lutas sociais. No entanto, ainda é muito pouco. Como disse no post anterior a este, escrito no início de outubro, as eleições deste ano cristalizaram a esquerda em uma posição claramente defensiva. Não apenas em relação ao resultado eleitoral, mas – o que é mais preocupante – do ponto de vista da batalha de ideias. Basta ver as pautas dos vencedores para constatar que houve uma perda “cultural” dos setores progressistas em relação aos temas que lhe são caros.

Mais ainda: a esse momento de recuo forçado segue-se, como era de se esperar, uma ofensiva contra os direitos populares que há tempos não se via. A PEC 241 (agora, no Senado, PEC 55), bem como a decisão do STF de permitir aos órgãos públicos cortar ponto de funcionários grevistas tão logo deflagrem a paralisação, são a parte mais visível de um processo que começou há muitos meses. Basta se lembrar das falas de Romero Jucá interceptadas pela PF, ainda antes do impeachment, na qual ele insinuava a necessidade de um “grande acordo nacional” que envolvesse “todos os poderes” – a começar pela destituição de Dilma. O resultado desse acordo começa a se tornar palpável: o novo Executivo e o Legislativo, agora em perfeita sintonia, aprovam ataques à população, sob as vestes da proteção de um Judiciário cúmplice, atento apenas para seus interesses corporativos. E, aparentemente, sem qualquer esboço de reação por parte dos setores populares.

Desalentador? Sem dúvida. E admito que não me agrada escrever posts nesse nível de pessimismo. Mas, convenhamos, está difícil enxergar qualquer luz no fim do túnel. A menos que seja a de um trem desgovernado vindo em nossa direção...

4 comentários:

  1. Tenho um sentimento de profunda tristeza em relação ao momento atual em nosso país: não apenas porque sou estudante em uma instituição pública, mas também porque, para completar, faço uma licenciatura. Tudo bem que escolhi meu curso (Letras) por idealismo, ciente de que a educação, no Brasil, não tem valorização nenhuma. Mas agora... caramba! Nossos "queridos" governantes estão passando de todos os limites! Cortar investimentos na área da saúde e da educação, e ainda tirar o direito de greve dos funcionários públicos...

    ...

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  2. Sou pessimista por natureza, mas com os últimos acontecimentos desfavoráveis para a população, está cada vez mais difícil acreditar que algo aconteça de bom. A decisão do stf antes mesmo de deflagrar a greve dos TAE's foi a gota d'água.

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    1. Estou longe de ser pessimista, Patrícia. Mas, realmente, como você disse, está quase impossível acreditar em algo de bom acontecendo num futuro próximo :(

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