Em geral, um debate serve, primeiramente, para
demarcar campos políticos. Com este não foi diferente. Entre os candidatos
“nanicos”, a surpresa positiva ficou por conta de Eduardo Jorge, que debatendo
temas como aborto, legalização das drogas e reforma política, posicionou o PV
na órbita da esquerda como há muito o partido não se posicionava. Luciana Genro
manteve o discurso do PSol e, não fosse a chatice do ressentimento com o PT
(típico da maioria dos ex-petistas, diga-se), poderia ter tido uma atuação
melhor. Tem boas propostas, também tocou em temas importantes, como a laicidade
e a questão indígena (esta, um dos pontos fracos do atual governo), mas a meu
ver, não dialogou verdadeiramente com sua base em potencial, os trabalhadores. À
direita, Pastor Everaldo martelou sua proposta de privatizar tudo, menos as
preferências e orientações sexuais alheias. E Levy Fidelix, o mais fraco dos
sete presentes, foi um peso morto.
No que se refere aos principais
concorrentes, a primeira expectativa era saber como se comportariam após a
divulgação da pesquisa do Ibope, poucas horas antes, que mostrava um
crescimento de Marina na segunda posição e queda especialmente de Aécio, pela
primeira vez em terceiro e distante da candidata do PSB.
Curiosamente, o tucano, que teve
boa postura ao longo do debate, não atacou sua agora rival direta e preferiu
concentrar-se em Dilma. Na
minha opinião, perdeu todos os embates com a presidenta. Além disso, bateu na
tecla de que teria feito uma “ótima gestão” (sic) em Minas Gerais e
apresentou, como “novidade”, Armínio Fraga como seu nome para o ministério da
Fazenda. Obviamente, não convenceu. Na verdade, embora fale bem, Aécio é tão
vazio de conteúdo que, a continuar assim, arrisca-se a perder ainda mais espaço
na corrida presidencial.
Dilma teve um desempenho muito
melhor do que nos debates de 2010. Conquanto tenha sido alvo preferencial de
todos os demais candidatos, em nenhum momento saiu-se derrotada nos confrontos
diretos. Pelo contrário. Exceção feita ao primeiro bloco, onde teve uma fala
com bom conteúdo, mas se mostrou um pouco nervosa, a presidenta apresentou
números e teve respostas firmes (como na defesa do “Mais médicos” e da
Petrobrás) e propostas sólidas. Reforçou politicamente seu lado – o que é o
mais importante –, sobretudo ao defender o plebiscito para a reforma política,
a regulação econômica da mídia e uma democracia com participação popular.
Mas, inegavelmente, a maior
expectativa da noite era o desempenho de Marina, que pela primeira vez seria
confrontada ao contraditório. Ora, neste sentido, e ainda que a postura da
candidata tenha sido muito boa (falando de forma contundente, sem nervosismo), o
debate serviu fundamentalmente para começar a desmascarar sua “nova política”:
um projeto contraditório, sem propostas claras, personalista, conservador e
neoliberal, (muito mal) travestido de “novidade”. Um projeto que nega a
existência de classes sociais (chegando ao cúmulo de afirmar que Chico Mendes
era de “elite”, tal como a herdeira do Itaú, Neca Setúbal, que é uma de suas
gurus econômicas) e se orienta por um moralismo inconsequente (expresso na
obscura ideia de um governo de “pessoas de bem”, “sem partidos”). Enfim, uma
lástima, infelizmente, posto que acreditava (ou torcia – vide post anterior)
para que, com Marina no segundo turno, o debate político avançasse. Não vai
acontecer.
A expectativa que resta, agora, é
saber o impacto que este início de desconstrução da novidade Marina poderá ter
entre seus eleitores. A candidata que se apresenta como o novo se inclinou
fortemente para a direita, com um discurso voltado para o mercado. Isso poderia
lhe tirar votos, em particular daquela camada mais à esquerda de jovens que
(ainda) enxergam nela a personificação do “espírito de junho”. Por outro lado,
pode viabilizá-la como alternativa à direita.
Contudo, é forçoso notar que a
audiência do debate é baixa, e a percepção sobre o desempenho e as propostas
das candidatas e dos candidatos se dará, como sempre, a partir da narrativa da
grande mídia – o que, sabemos bem, desfavorece amplamente a candidatura petista
e favorece Marina, que não deverá ter suas contradições, por ora, expostas ao
público.
Neste ponto, porém, entra uma
última interrogação. Como era de se esperar, os jornalistas da Band que
participaram do debate de ontem adotaram uma postura de ataque direto a Dilma e
ao PT em todas as oportunidades possíveis. Inclusive, desviando vergonhosamente
de seu papel naquele momento (tecer perguntas aos candidatos) e deixando claro
seu lado. Mas ontem, da forma como foi costurada, essa posição favoreceu tanto
Marina quanto Aécio, que encontraram, ambos, um reforço calculado no ataque ao
governo. No entanto, dada a queda do tucano e a consolidação da ex-senadora no
segundo lugar – e caso essa tendência se mantenha, o que parece bastante
provável – será que a mídia abandonará Aécio e o PSDB e apoiará Marina?
Ótimo texto, porém discordo que a Marina tenha falado sem nervosismo. A voz dela tremia...
ResponderExcluirObrigado! Bem, quanto ao nervosismo ou não, é questão de percepção. Acho que mais importante do que a forma da fala, é o conteúdo. Este, sim, é preocupante.
ExcluirAbraço