domingo, 26 de setembro de 2010

A mídia e o terrorismo político

Estamos nos últimos dias de campanha. Momento decisivo, em que se jogam as últimas cartadas, se apresentam as últimas propostas, se tenta convencer a parcela do eleitorado que ainda está indecisa. Mas, no caso específico dessas eleições, algo tem chamado a atenção já algum tempo: é que há quase 1 mês, qualquer possibilidade de discutir minimamente alguma proposta para o país foi soterrada. Vendo como quase irreversível a consolidação da liderança de Dilma Rousseff, com uma probabilíssima vitória já no primeiro turno, a oposição e sua milícia midiática decidiram apelar para o terrorismo político, com o intuito de levar o tucano José Serra para o segundo turno, ou, ao menos, criar um clima de instabilidade no país que prejudique a governabilidade de Dilma, caso seja mesmo eleita.

Isso não começou agora. Desde antes das eleições são feitas críticas infundadas e algumas preconceituosas a respeito de Dilma (críticas que vão de sua aparência, suposta opção sexual, ao seu passado, sua formação acadêmica, etc.). O emblema dessa fase, para mim, é aquela capa da Época com a foto da candidata quando jovem e a manchete “O passado de Dilma”. Sem projeto, e sem poder se contrapor ao crescimento da candidatura petista, os pára-jornalistas da direita começaram a agir por outra via. Começou a série de denúncias contra a então ministra-chefe da Casa Civil, Erenice Guerra. O objetivo, claro, não era apurar as irregularidades envolvendo a máquina pública (o que deve sempre ser feito). O objetivo era “provar” que o PT e Dilma tinham envolvimento em tais casos de corrupção. Parecia um tiro certeiro, mas, como dizem por aí, o tiro saiu pela culatra: cada nova denúncia, acompanhada da impossibilidade de ligar Dilma e seu partido aos escândalos (afinal, é um tanto difícil provar o que não houve) aumentava as intenções de voto na candidata do governo, e consolidavam a possibilidade de sua vitória no primeiro turno. Mais ainda: segundo as pesquisas estaduais, desenhava-se um cenário (que deve ser confirmado no próximo domingo) no qual o PT e partidos aliados cresceriam consideravelmente, tanto na Câmara quanto no Senado, e no qual a oposição perderia ainda mais sua força (há algum tempo fala-se abertamente, por exemplo, na possibilidade de extinção do DEM).

Aí, o pessoal enlouqueceu de vez. Para a direita e a grande imprensa (até mais do que para alguns setores moderados da oposição, que, literalmente, já desistiram de Serra), é inadmissível uma terceira vitória petista, com ampla maioria de parlamentares pró-governo. Para eles, é um risco. Lula, sabendo do que esperava Dilma e o PT na reta final da campanha, anunciou numa frase simples e certeira: “no Brasil, a [grande] imprensa funciona como um partido político”. É o que o Paulo Henrique Amorim chamou de P.I.G. (Partido da Imprensa Golpista). A constatação do presidente acabou servindo de mote para a apelação derradeira da oposição: se Dilma ganhar, o Brasil caminhará para uma ditadura civil. A partir daí, começou um vale-tudo. Terrorismo político. Vídeos apelativos anônimos, corrente de e-mails e toda uma sorte de bravatas. Neste final de semana, o jornal O Estado de São Paulo declarou que apóia José Serra (leia o editorial do Estadão aqui) defendendo-o como o candidato que melhor reuniria as condições de “evitar um grande mal para o país”. O mal, para o jornal, é a continuidade do poder nas mãos do PT (tratado pelo jornal, vejam só, como uma “facção” que “submete os interesses coletivos aos seus”). Já na semana passada, um grupo de personalidades e intelectuais da direita brasileira lançou um manifesto contra o PT, “em defesa da democracia e da liberdade". A Veja dedica há algumas semanas suas matérias de capa para achincalhar Dilma e o PT. A dessa semana, como não poderia deixar de ser, faz coro à “grande ameaça” de um novo governo petista e traz a manchete: “Liberdade sob ataque”. A Folha de São Paulo, tentando cinicamente demonstrar imparcialidade – e para não ficar atrás do concorrente – também dedicou seu editorial de domingo a “advertir” aqueles que atacam o “jornalismo livre” de que haverá volta.

O que está por trás de toda essa verborragia é o medo: medo de que, com mais um governo do PT, o poder oligárquico que controla a grande imprensa continue sofrendo abalos. Menos de 1 dúzia de famílias controlam quase todo o acesso a informação que temos no país. Televisões, rádios, jornais, revistas, tudo se concentra na mão de um punhado de mentes que decidem o que podemos ou que não podemos saber, e como podemos saber. Por isso, não admitem qualquer intervenção pública em sua atividade. Qualquer forma, mínima que seja, de controle social. Não admitem democratizar o acesso à informação, o estímulo a mídias alternativas, a existência de redes de TV públicas, etc. Não admitem, vejam só, que o Estado ou a sociedade civil possam dizer seus programas de televisão são de péssima qualidade. Ou que distorcem as notícias a seu bel-prazer. Ou que têm opção político-ideológica bem definida. Que detestam um governo que popular. Não. Eles querem o controle total para falar e fazerem o que bem entenderem. É que na democracia da milícia midiática, só eles têm direito à voz. Só eles têm a informação. O povão que ouça, veja, leia e, sobretudo, aceite, afinal, pensam essas pessoas, pobre é ignorante mesmo. Apóiam um metalúrgico sem diploma na presidência, não é? Por isso, para não terem seu poder ameaçado, toda tentativa de controle e supervisão de seu serviço deve ser classificada como “atitude ditatorial”, “atentado à liberdade de expressão”. E todo governo popular, que ameace o poder da grande mídia, que tente dar ao povo o direito de produzir e acessar informação e cultura por meios alternativos, que diga claramente quais os interesses dessa gente, deve ser denunciado como “ditatorial”. É a lógica terrorista. “Se Dilma ganhar, o Brasil se transformará numa ditadura”. Ditadura, para eles, é quando o governo passa por cima dos interesses deles para atender o povo. Ou quando um governo, bem aprovado, faz por via eleitoral seu sucessor. E quando o partido desse governo tem maioria eleita no Congresso. Mas, como disse o Lula esses dias, “democracia não é ter direito a falar que está com fome; é ter comida no prato”. É isso que eles não admitem. Hoje é comida, amanhã é uma faculdade e depois? Vão querer pensar por conta própria? Governar sem nós? Eles têm medo. E jogam com o terrorismo político para evitar perderem seus tronos. Mas essa lógica falhará novamente. O golpe da mídia fracassará. Porque o povo sabe qual governo será melhor para ele. E milícia midiática, bem, essa vai ter que nos engolir. Pela terceira vez.



2 comentários:

  1. Meu aniversário e vc falando de política, mídia, eleições? A Veja não colocou a minha foto na capa?
    Não creio!!! O mundo vai acabar!!!
    (Brincadeiras a parte, ótimo texto!)

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  2. Obrigado Angel! E feliz aniversário pela enésma vez! rsrs

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